O estereótipo da função paterna, independente de quem a exerça (irmão, mãe, tio, tutora etc.) é a de proteção, orientação e autoridade. Ainda que a pessoa responsável não tenha nenhuma dessas características e/ou interesse em desempenhá-las, existe uma tendência natural da infância sobre os incumbidos, que faz os pequenos enxergarem (devido à fragilidade e dependência) uma imagem personificada de força e abrigo. Do lado do “pai” a criança se sente segura – um legítimo ídolo (pelo menos na cabeça inocente) que não teme nada, resolve qualquer problema, sabe um monte de coisas e é portador de verdades absolutas. Em suma, é a mão sustentadora que talvez dure para sempre.
Diversas situações podem determinar o tipo de interação afetiva: o período cronológico, a cultura, o ambiente, os fatores socioeconômicos, o carma para os reencarnacionistas e assim por diante. Contudo, nas profundezas a realidade é uma só: somos de reino e espécie equivalentes e as diferenças são meras superficialidades, desde os desejos até os medos.
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Quando amadurecemos no sentido intelectivo, passamos a reparar lentamente que o corajoso herói idealizado também adoece, não responde tudo, esconde fraquezas, tem pavor de sangue ou de rato e que um dia morrerá igual aos demais. Nessa hora estouramos a bolha com todos os seus atributos criados ao redor daquele homem e de forma inconsciente projetamos o mesmo conceito para uma outra entidade. Agora, já experientes o suficiente para não haver frustrações amargas e finitas em relação à pequenez humana, sofisticamos a nova bolha para receber o SUPER-PAI: alguém eterno, poderosíssimo e justo, controlador dos desastres climáticos (peculiaridade que o anterior não tinha), que não nos deixe cair em tentação e que livre seus filhos dos males do mundo.
Parece uma definição bastante familiar, não é? Veja, no processo histórico do ocidente houve a unificação de dois grandes impérios, Grécia e Roma, que formaram a civilização greco-romana. Dentre outras coisas juntaram as mitologias, sincretizando o senhor do Olimpo, Zeus, com o que hoje fantasiamos na aparência do Deus cristão: um velho de cabelos e barbas brancas, sentado em nuvens, bisbilhotando suas ínfimas criaturas. A maioria das religiões inventaram um Deus antropomórfico, ou seja, à sua própria semelhança (e não o inverso) com o intuito de suprir algumas necessidades básicas do coração e claro, engendrar articulações POLÍTICAS.
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“Precisamos” das liturgias, teologias e dogmas para justificar os acontecimentos da vida (em especial as tragédias), para fornecer um motivo transcendente que preencha o vazio que sentimos e para dar uma explicação razoável do porque NÃO devemos nos opor à miséria, às castas, à ignorância e à repressão dos contraceptivos. É fundamental a existência de Deus para o surgimento do diabo, caso contrário não teríamos em quem jogar a culpa dos nossos equívocos, inclinações e vícios. Ironicamente o pobre coitado do Belzebu, símbolo da maldade, é o responsável pela compreensão e valorização do que entendemos por benevolência, visto que o bem só existe em razão do contraste com o mal. E a infantilidade não para aí. Exigimos do Altíssimo sua onipresença obrigatória, como um fiel amigo que não oscile o comportamento e que esteja disponível (sem folga e feriado) no instante em que carecemos desabafar ou pedir. Enfim, uma série de insuficiências originaram cerca de trezentos cultos no planeta – isso sem falar das ramificações e “coligações” espalhadas em cada esquina ou viela.
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O real é que não estamos nem um pouco interessados e preocupados com a verdade. O que buscamos nas religiões (e consequentemente em Deus) é a segurança, um cantinho no paraíso e um devoto camarada que limpe a sujeira dos pecados. Observe seu comportamento com o Divino. Será que realmente o ama ou somente tem horror do inferno? De repente você procura os templos como um meio para aliviar o peso da culpabilidade e não um fim em si. O remorso e o pecado são ferramentas muito usadas na crença para acorrentar os “órfãos” de pai. É estrutural e lógico fazer e manter o rebanho sentindo culpa para depois salvá-los. As instituições e os seus membros em geral querem poder. Eu não duvido que os sacerdotes tenham na cabeceira da cama o manual “O PRÍNCIPE” de Maquiavel como um guia junto com os livros sagrados.
Não me interprete como ateu ou teísta. Estou comprometido com a verdade, não com você e nem com o status quo. O conceito de humildade para as religiões judaico-cristãs não é a figura do Santo, mas a pessoa que reconhece a sua puerilidade e o quanto está longe das qualidades imaculadas. Gostaria que avaliasse seu comportamento diante da fé com honestidade. Em nenhum momento entrei na questão de Deus existir ou não, isso é outro assunto e se a verdade última for “Ele”… que perdoe a minha ignorância, mas a crença é a repressão da dúvida e eu tenho um apreço gigante pela insegurança e o perigo.
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