Meu pai chega amanhã

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Crônica de Luiz Carlos Seixas

Essa foi a desculpa para as minhas faltas dessa quinta feira: “Meu pai chega amanhã”. Imagino que possa ter soado estranha ou absurda para alguém. Para o Marcelo, por exemplo, meu companheiro de chope na Feira da Lua; ou para Narciso, ocupado em projetar mansões para novos ricos às margens da represa de Avaré. Eu tenho poucos amigos, mas não reclamo. É o número que eu preciso. Quem quer ter um milhão de amigos é o Roberto Carlos, que vive sozinho, trancado em casa.

Mas, o que importa é que, de fato, meu pai chega mesmo amanhã. Chega pela estação rodoviária, perto da meia noite, depois de um dia de viagem por terra. Uma terra seca, como ele certamente não viu nesses últimos 91 anos pela janela do ônibus, a janela impenetrável do ônibus que o traz até mim.

E é no tempo perdido, entre o agora e a hora da sua chegada, amanhã, que eu me pergunto: Dos meus amigos de infância e colegas de classe, quantos hoje podem dizer “meu pai chega amanhã”? Em alguns casos, nem alguns dos meus amigos estão aqui para esperar por nada. Porque a certas idades a gente só chega à custa de muitas perdas – e eu perdi alguns deles.

Amanhã, meu pai irá cruzar o Estado, no sentido Norte/Sul, para nos fazer uma visita de dois dias. Bem que podia passar mais tempo com a gente do que na estrada. Mas eu não reclamo. Tive tempo para me acostumar à natureza lépida de meu pai, herdada de meu avô. Serão só dois dias, mas, além deste cronista, quem mais você conhece que hoje pode dizer: “meu pai chega amanhã”?

Sinceramente, não consigo me sentir menor ou mais pobre do que ninguém nessa hora.

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