José Paschoal e o difícil caminho dos transplantes

Quem assiste televisão com frequência certamente já se habituou aos anúncios das campanhas de doação de sangue exibidas nos intervalos da programação. Sabemos das dificuldades enfrentadas pelos bancos de sangue para manter seus estoques e já há certa consciência da necessidade da doação. Porém, quando se trata de doação de órgãos ainda existe muita desinformação e só percebemos essa realidade quando o problema atinge alguém mais próximo.




Em 2018, segundo dados do Ministério da Saúde, 41.266 pessoas aguardavam um transplante de órgão. Dentre os órgãos vitais para o ser humano o rim é o que possui a maior fila de espera, de acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos.  Os rins sãos responsáveis pela eliminação das toxinas do sangue, regulam a pressão sanguínea e controlam a presença de líquidos no corpo. O mau funcionamento deles provoca grandes transtornos aos pacientes, como náuseas, debilidade física, fadiga, desorientação, dispneia e edemas nos braços e pernas, comprometendo a qualidade de vida e, em alguns casos, pode levar à morte.




Quem sabe bem disso é o fotógrafo José Paschoal, que começou a enfrentar o problema aos 35 anos. Paschoal é portador de Diabetes tipo II, que causa o aumento da glicose no sangue e é uma das principais causas dos problemas renais. “Meus rins pararam por causa da diabetes muito alta”, lembra Paschoal. Antes da falência total dos rins, Paschoal já vinha apresentando problemas e era acompanhado por uma equipe especializada no tratamento. Como os órgãos não cumpriam mais sua função, Paschoal foi encaminhado para a hemodiálise: “Passei mal e fui levado para a Unidade de Pronto Atendimento. Eu estava péssimo, com a pressão muito alta. Era o começo de um infarto e seu fumasse ou bebesse já teria morrido”.

“Rim artificial utilizado na máquina de diálise. É fabricado na Alemanha e pode ser reprocessado e usado até 12 vezes no paciente”, conta Paschoal. | Foto: arquivo pessoal

A hemodiálise é um procedimento através do qual uma máquina filtra o sangue, realizando o trabalho que o rim doente não pode mais fazer, liberando os resíduos prejudiciais à saúde: “Fiquei um mês internado na Santa Casa. Quando melhorei, fui fazer hemodiálise em dias alternados”. Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia indicam que a cada ano 21 mil pessoas precisam iniciar tratamento com hemodiálise.

Por precaução, Paschoal havia feito uma fístula dois anos antes. Fístula é uma pequena cirurgia, realizada na maioria das vezes no braço, e consiste na ligação entre uma artéria e uma pequena veia, com o objetivo de aumentar seu calibre, tornando-a mais grossa e resistente para receber as agulhas da hemodiálise.

“Fazer hemodiálise é difícil. Já vi gente morrer lá. Precisa fazer restrição de líquidos, não é fácil. A máquina força um pouco o corpo, o coração sofre”, relembra Paschoal.

A maior dificuldade era não poder beber água: “Eu tenho diabetes, a boca seca, e precisa fazer restrição de líquidos”. As sessões de hemodiálise duravam cerca de 3 horas e durante esse tempo o jeito era “assistir tevê, ouvir música ou usar o celular”.

Três meses após o início das sessões de hemodiálise, Paschoal entrou na fila dos transplantes em Botucatu. A cidade é conhecida por ser uma referência no tratamento de ponta para várias enfermidades, e realiza transplantes de rins há muitos anos no Hospital das Clínicas da Universidade Estadual Paulista – UNESP, instalada no distrito de Rubião Junior.

“O mais difícil era ficar sem beber água”, relata Paschoal.

Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, no transplante renal um rim saudável de uma pessoa viva ou falecida é doado a um paciente portador de insuficiência renal crônica avançada. O rim implantado passa a exercer as funções de filtragem e eliminação de líquidos e toxinas.

Em março do ano passado, Paschoal passou o aniversário no setor de hemodiálise da Clínica de Ourinhos. | Foto: arquivo pessoal

Como acontece em outros tipos de transplantes, uma questão é fundamental: a compatibilidade do doador. Paschoal conta que num primeiro momento esse obstáculo foi superado: “Meu irmão se ofereceu para ser o doador, e ele era compatível”. Porém, a complexidade de um transplante envolve diversos fatores e a obesidade do irmão, que deveria perder cerca de 25 quilos, impediu que o transplante fosse realizado naquele momento. Para piorar, Paschoal teve um problema cardíaco e voltou novamente para a fila do transplante. A situação ficou ainda mais complicada quando sua mulher, Adriana, iniciou um tratamento contra o câncer em Curitiba.




Depois de ficar mais um ano aguardando uma nova chance de realizar o transplante, finalmente ele recebeu o telefonema que daria início a uma nova etapa da sua vida: “Eu tinha visitado a Adriana em Curitiba, ela estava sofrendo com os efeitos da quimioterapia, fiquei angustiado. Resolvi ir até o Santuário São Miguel Arcanjo em Bandeirantes pedir pela nossa saúde. Nós vamos lá todo dia 29 do mês”. Paschoal abasteceu a caminhonete e quando partia rumo a Bandeirantes, cidade onde fica o Santuário, o telefone tocou: “Seu José, tem um rim aqui pro senhor!” A voz era do médico responsável pelo serviço de transplante do hospital: “Foi muita emoção, todo mundo chorando… Tanto tempo esperando, minha mulher com câncer…estava difícil. Nem precisei pedir pela graça, ela veio até mim”.

O Hospital das Clínicas de Botucatu é referência em todo o país. | Foto: Unesp.br

Paschoal chegou a Botucatu e lá ficou sabendo que o doador, um morador de São José do Rio Preto, não havia resistido a uma crise de asma, mas o rim estava em perfeitas condições: “Eu estava morrendo de medo! Uma ansiedade doida!” Após 5 horas de cirurgia, o rim transplantado já começou a funcionar, indicando que o procedimento havia sido bem sucedido. Uma semana após a cirurgia, Pachoal já estava em casa.

Aguardando para ir ao Centro Cirúrgico. | Foto: arquivo pessoal

Pacientes transplantados devem seguir rigorosamente algumas orientações: “Fiquei seis meses sem frequentar lugares públicos, pois minha imunidade estava muito baixa, e tomo vários medicamentos para evitar a rejeição. Apesar disso, levo uma vida normal, trabalho bastante e aproveito a chance de estar vivo”. Paschoal ainda retorna com regularidade a Botucatu para realizar exames. Ele revela ainda que gostaria de conhecer a família do doador: “Eu tenho vontade de conhecer para agradecer muito. Eles tiveram uma perda, mas outras pessoas ganharam nova oportunidade de vida com isso. Nunca perdi a fé, foi isso que me trouxe até aqui. Sou muito grato por tudo”.

Paschoal deixa o hospital após sete dias. | Foto: arquivo pessoal

Para quem deseja obter mais informações sobre transplantes, basta consultar a página da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (http://www.abto.org.br). É possível saber mais sobre transplantes renais na página da Sociedade Brasileira de Nefrologia (https://sbn.org.br).

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