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por Bernardo Fellipe Seixas
Tarifas altas, insatisfação e o peso de uma decisão que o povo de Ourinhos terá que carregar por 30 anos.
Se você é um dos muitos ourinhenses que ultimamente receberam sua conta de água e sentiram uma mistura de incredulidade e revolta, não está sozinho. Desde que a Superintendência de Água e Esgoto (SAE) foi extinta pelo ex-prefeito Lucas Pocay (PSD), no apagar das luzes de seu mandato em 2024, as cobranças pelos serviços de água, esgoto e coleta de lixo se tornaram um fardo cada vez mais pesado para a população. Privatizados por 30 anos em um leilão realizado em São Paulo, na sexta-feira de carnaval de 2024, esses serviços passaram de promessa de “modernização” a sinônimo de cobrança abusiva e insatisfação generalizada.
Na última segunda-feira (20), um empresário conhecido – que raramente se manifesta publicamente – detonou em críticas à Ourinhos Saneamento. Em letras garrafais, publicou no Facebook: “Vergonha para a população”, acompanhando o desabafo com uma foto da sede da empresa. Mesmo com o perfil fechado, a postagem atravessou as bolhas das redes sociais e acendeu debates sobre as tarifas abusivas.
Privatização ou capitulação?
O ex-prefeito Lucas Pocay manifestou interesse em acabar com a SAE desde seu primeiro dia como prefeito, em janeiro de 2017. Naquele ano, inclusive, ele enviou o projeto de concessão para a Câmara Municipal, que foi aprovado pelos vereadores. Porém, Pocay só admitiu publicamente que iria acabar com a SAE em 2022, em entrevista à TV TEM Globo. Curiosamente, uma semana antes ele negava veementemente, em suas redes sociais, a privatização. Quando decidiu “terceirizar” a autarquia, a promessa era de eficiência, investimentos e melhorias nos serviços. Passados quase três meses da troca na gestão dos serviços de água e esgoto, o que se viu foi uma escalada de tarifas que transformou o básico – acesso à água potável e a serviços de saneamento – em uma conta extremamente cara para muitas famílias ourinhenses. Nas redes sociais, há relatos moradores afirmando que vão ter que fazer empréstimos bancários para pagar contas de água.

A insatisfação também respinga na classe empresarial. Comércios e indústrias, que já enfrentam custos crescentes em outras frentes, veem nas tarifas elevadas mais um entrave ao desenvolvimento. “Não tem como expandir os negócios se ficarmos ‘pagando o preço’ de uma gestão irresponsável”, comentou um comerciante em uma publicação do Jornal Biz.
A resistência de Guilherme Gonçalves
O prefeito Guilherme Gonçalves (Podemos), que assumiu o cargo há quase um mês, tem uma história direta com a SAE. Ex-servidor concursado da autarquia, ele esteve na linha de frente da Câmara Municipal contra a privatização. Na época, Guilherme foi um dos poucos vereadores a se manifestar publicamente contra o que considerava um “golpe” no patrimônio de Ourinhos.
Agora, como chefe do Executivo, carrega a missão de lidar com as consequências de uma decisão que não foi sua, mas que afeta diretamente a qualidade de vida dos ourinhenses. Desde sua eleição como prefeito, Guilherme tem reiterado publicamente o compromisso de fiscalizar a Ourinhos Saneamento e buscar alternativas para minimizar o impacto das tarifas sobre a população.
E agora?
A insatisfação está clara. A população, os comerciantes e até os mais otimistas estão sentindo o peso de uma decisão que favoreceu o lucro privado em detrimento do bem-estar coletivo. Conseguirá o atual prefeito frear a busca incessante da Ourinhos Saneamento por lucros? E os serviços de manutenção na rede de água e esgoto, voltarão a ser realizados com a excelência da antiga SAE? Mais do que reclamar nas redes sociais, os ourinhenses precisam exigir mais transparência nas ações da empresa que hoje controla o sistema de água e esgoto da cidade.
Lucas Pocay não está mais no comando da prefeitura, mas as consequências de sua gestão estão longe de ser esquecidas. E a pergunta que fica a cada fatura que chega continua sendo a mesma: o povo de Ourinhos vai aguentar pagar essa conta até 2054?
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