Médicos de Botucatu pedem lockdown após 12 mortes por Covid em 9 dias. Ourinhos já soma 34 mortes no mesmo período

por Bernardo Fellipe Seixas

Ourinhos tem 33 mil habitantes a menos do que Botucatu, e 62% mais óbitos por Covid

Botucatu é uma cidade do mesmo porte de Ourinhos, e registrou 12 mortes por Covid nos nove primeiros dias de junho. Ontem (9) os médicos da cidade resolveram divulgar uma carta pedindo medidas mais restritivas para conter a contaminação e evitar colapso no sistema de saúde. No mesmo período, Ourinhos já soma 34 mortes; quase três vezes mais do que Botucatu.

Em Ourinhos os médicos não se pronunciam sobre o colapso da saúde, pois sequer foram chamados para participar de comissões ou do Comitê de gestão da pandemia. Aliás, o Comitê Covid19 de Ourinhos é uma caixa-preta e não se comunica com a população. Seu comando é absolutamente político, sob responsabilidade da Prefeitura, e não conta com representantes de entidades do comércio, trabalho ou sindicais. O atual secretário de saúde, Donay Neto, também não é médico, e declara ser especialista em logística.

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Desde o início da pandemia, o prefeito de Ourinhos, Lucas Pocay (PSD) toma para si as decisões a respeito da epidemia, inclusive quando desrespeitou determinações do Plano SP, do governo estadual. Não acontecem entrevistas com médicos ou outros profissionais da área da saúde, para orientar a população quanto a novas posturas a serem adotadas. O Comitê existe para avalizar as decisões de Pocay, mas é praticamente invisível. Ao contrário de Botucatu, onde a ciência tem vez, em Ourinhos a política e motivos econômicos são prioritários na tomada de decisões durante a pandemia.

O manifesto é assinado por “médicos da atenção primária” da Saúde de Botucatu, endereçado às autoridades e à população, e destaca o aumento de casos na cidade, com UTIs lotadas e iminente colapso da Saúde.

Os médicos botucatuenses pedem que as autoridades restrinjam a circulação de pessoas, por meio de lockdown: “Precisamos desse respiro para que nosso sistema de saúde não entre em colapso. Os trabalhadores da saúde já estão além do esgotamento físico e mental”. E continua: “Vemos que todos os locais que estão vencendo a COVID o fizeram quando tomaram medidas de contingência. Sabemos como o comércio é importante para a nossa cidade, mas sabemos também que como a contaminação pelo vírus é aérea, temos que evitar aglomerações a todo custo”.

VACINA – Botucatu é a cidade do Brasil com maior porcentagem (77,5%) de pessoas vacinadas contra Covid19, graças a um plano de imunização em massa conduzido pelo Instituto Fiocruz. No entanto, a aplicação da primeira dose foi feita há 15 dias. “Fomos felizmente contemplados com o grande estuda da vacina Astrazeneca, porém precisamos lembrá-los que esse imunizante só irá nós proteger duas semanas após a segunda dose. Até lá, se não tomarmos medidas de distanciamento, nossa população continuará a sofrer com o coronavírus. As UTIs estão lotadas de pessoas jovens, fora do grupo de risco. A doença é grave, e precisamos nos proteger”, diz a carta dos médicos.

 Leia abaixo a íntegra da Carta:

CARTA DOS MÉDICOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA ÀS AUTORIDADES E POPULAÇÃO BOTUCATUENSE

Prezadas autoridades e população de Botucatu,

Estamos vivendo tempos difíceis. Essa semana, nossa cidade teve recorde de casos novos de COVID 19, e o número de mortos aumenta a cada dia. Nossas UTIs estão lotadas (112% de ocupação na Unesp e 70% na Unimed), os Pronto Socorros estão cheios, os postos de saúde superlotados e recebendo diariamente muitos casos novos, as ambulâncias do SAMU tem que ficar horas paradas nas portas dos PSs para poder deixar os pacientes. O colapso é iminente.

Vemos que todos os locais que estão vencendo a COVID o fizeram quando tomaram medidas de contingência. Sabemos como o comércio é importante para a nossa cidade, mas sabemos também que como a contaminação pelo vírus é aérea, temos que evitar aglomerações a todo custo.

Fomos felizmente contemplados com o grande estudo da vacina Astra-Zeneca, porém precisamos lembrá-los que esse imunizante só irá nos proteger duas semanas após a segunda dose. Até lá, se não tomarmos medidas de distanciamento, nossa população continuará a sofrer com o coronavírus. As UTIs estão lotadas de pessoas jovens, fora do grupo de risco. A doença é grave, e precisamos nos proteger.

Dessa forma, fazemos um apelo às autoridades: por favor, restrinjam a circulação de pessoas. Os dois finais de semana de lockdown que tivemos há alguns meses surtiram efeitos muito positivos no número de casos, e precisamos novamente desse respiro para que nosso sistema de saúde não entre em colapso. Os trabalhadores da saúde já estão trabalhando além do esgotamento, físico e mental, e cada vez mais adoecendo das diferentes formas. Além dos sintomas de burnout, estamos nos contaminando pelo cansaço. Os EPIs por vezes são escassos ou de qualidade inferior, férias têm sido canceladas, as jornadas são longas e de muito trabalho. Nós, que estamos vivendo o pior da pandemia na pele, estamos cansados de presenciar as despedidas, o medo, a falta de ar. Sempre tivemos muito trabalho, mas agora, além de todo o normal, temos uma explosão de casos de COVID 19 para lidar, qualquer que seja nosso ambiente. E o pior é que muitas vezes não temos estrutura para isso.

Nós precisamos da ajuda de todos. Por favor, fique em casa. Use máscara sempre que sair. Higienize as mãos frequentemente. Nossa cidade é conhecida pela sua população solidária, então vamos levar isso à diante. Sejam solidários conosco, e com o restante da população também. Logo menos a segunda dose da vacina chegará a todos e estaremos um pouco mais seguros, mas até lá, precisamos ser fortes.

Obrigado.

Assinam essa carta os médicos da Atenção Primária de Botucatu.

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