
por Bernardo Fellipe Seixas
Empresário de Bernardino de Campos já calcula aumento no preço da cerveja; ourinhense eleitor de Tarcísio se diz traído
O bolso dos moradores de Ourinhos e região vai sentir mais um aperto a partir de outubro de 2026. O Governo do Estado de São Paulo publicou na semana passada o edital de concessão do Lote Paranapanema, que prevê a instalação de pedágios eletrônicos em rodovias entre Ourinhos e Itapetininga. A cobrança será feita no sistema “free flow“, por meio de TAG instalada nos veículos ou cobrança digital – uma tecnologia que nem ao menos gera empregos, já que todo o processo é automatizado.
Valores que pesam no orçamento familiar e empresarial
Na região estão previstos quatro pórticos de cobrança na rodovia Raposo Tavares (SP-270), com valores cobrados por quilômetro rodado, que vão impactar diretamente o dia a dia de quem precisa se deslocar entre as cidades. O P4, entre Ipaussu e Bernardino de Campos, custará R$ 5,24, enquanto o P5, que abrange os trechos Ourinhos-Canitar, Canitar-Chavantes e Chavantes-Ipaussu, será de R$ 6,86. Para quem precisa se deslocar de Ourinhos até Bernardino de Campos – um trajeto de menos de 50 quilômetros – o custo será de pelo menos R$ 12 por viagem em carro comum.
Abandono estratégico precedeu a concessão
Desde o início do mandato do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em 2023, motoristas da região convivem com o abandono das rodovias sob responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), órgão do governo estadual. Em Ourinhos, no trecho urbano das rodovias Raposo Tavares e Mello Peixoto, nem serviços básicos como manutenção de passarelas, corte de grama do canteiro central, sinalização, pintura e instalação de placas são mantidos adequadamente. O abandono e precarização dessas vias parece ter sido um projeto deliberado desde o primeiro dia do atual governo estadual, preparando terreno para vender a exploração das rodovias para a iniciativa privada. O governo prevê a concessão das rodovias por 30 anos.
Impacto direto na economia regional e no bolso do trabalhador
A cobrança de pedágios promete afetar duramente a economia local. Centenas de trabalhadores e estudantes fazem diariamente trajetos entre os municípios da região, e terão seus custos de transporte majorados. O efeito cascata é inevitável: combustíveis e fretes mais caros, passagens rodoviárias mais altas e, consequentemente, alimentos e produtos mais caros para o consumidor final. O empresário Diogo Natale, 45 nos, proprietário da Cervejaria Ficus de Bernardino de Campos, que mantém escritório, bar e depósitos em Ourinhos, já faz contas para avaliar o impacto da medida. “Vou quase diariamente a Ourinhos, tenho um gasto mensal considerável em transporte, e vai aumentar ainda mais”, afirma.
Natale questiona as promessas que sempre acompanham a instalação de pedágios. “Vejo o exemplo da Transbrasiliana (BR-153), entre Ourinhos e Marília. O pedágio está lá há mais de 10 anos, e a pista tem buracos e nem duplicada foi ainda”, observa. Sobre a necessidade de repassar os custos para o consumidor, o empresário é direto: ainda não finalizou os cálculos do impacto financeiro, mas considera muito provável o aumento de preços. “Muita coisa a gente não encontra em Bernardino, e acaba indo comprar em Ourinhos. A ideia vai ser diminuir consideravelmente os deslocamentos, porque o custo de produção vai aumentar, e consequentemente, o valor final do produto será maior“, explica Natale, que alerta: “Tudo vai aumentar o preço, inclusive a entrega do Mercado Livre, o mototáxi, táxi, é só aguardar.”
Trabalhadores se sentem traídos pelas promessas eleitorais
Prestadores de serviços também estão indignados e projetam mais gastos. Antônio Ferraz, 37 anos, morador de Ourinhos, trabalha com projetos na área elétrica e três vezes por semana precisa ir até Ipaussu. “A gente já esperava, porque no final a conta sobra sempre para o trabalhador”, declarou ao Jornal Biz. Ferraz diz que votou em Tarcísio para governador nas eleições de 2022, e se lembra das promessas de não implantar pedágio na região. “Decepção total! Pra ganhar voto eles (políticos) mentem, fazem qualquer negócio. Minha vontade é nem votar nunca mais, em ninguém”, declarou o desiludido ex-eleitor do atual governador.
Silêncio dos prefeitos e resistência isolada
Os prefeitos das cidades atingidas pelos pedágios não se mobilizaram contra a medida. Em troca de algumas migalhas em impostos do governo estadual, eles mantiveram um silêncio oportuno. Em Ourinhos, o vereador Eder Mota (PSB) foi quem levantou a voz contra os pedágios e o governador, usando a tribuna da Câmara Municipal e as redes sociais para buscar mobilização. Em janeiro, o Jornal Biz publicou reportagem sobre a privatização das estradas e criou um abaixo-assinado online endereçado às autoridades, dizendo não aos pedágios.
Cronograma da cobrança
O processo de implantação dos pedágios seguirá um cronograma definido: em setembro de 2025 acontecerá o leilão, em dezembro do mesmo ano será assinado o contrato, e em outubro de 2026 terá início efetivo da cobrança. A medida representa mais um fardo para uma região que já enfrenta desafios econômicos, transformando deslocamentos rotineiros em gastos significativos para famílias e empresas locais.
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