Desvio de dinheiro público tem muitos envolvidos em Santa Cruz
A vizinha Santa Cruz do Rio Pardo vive em sobressalto desde o final do ano passado. Na véspera do natal, o prefeito Otacílio Parras Assis chamou a imprensa da cidade e denunciou que havia descoberto um grande desvio de dinheiro público, com a participação de funcionários da Prefeitura.
No começo de janeiro foi anunciada a prisão da ex-tesoureira Sueli Feitosa, que seria responsável pelo rombo milionário que até o momento não se sabe o valor certo, mas é estimado em cerca de 10 milhões de reais.
A investigação da Polícia Civil foi aos poucos desvendando uma complexa rede de cúmplices que incluíram vários familiares da ex-tesoureira, que também acabaram presos. A retirada de dinheiro das contas da Prefeitura de Santa Cruz aconteceu durante anos, e os extratos e balanços contábeis foram sendo adulterados de forma que não chamaram a atenção. O método garantiu que os desfalques acontecessem desde 2001, passando pelos governos dos ex-prefeitos Adilson Mira, Maura Macieirinha e Otacílio Parras. O esquema só acabou sendo descoberto devido à crise financeira vivida pelas Prefeituras, quando, precisando “raspar o tacho” para garantir abono de natal aos funcionários públicos, o atual prefeito descobriu que o que aparecia como saldo nos extratos não existia de fato nas contas bancárias da administração.
Presa Sueli Feitosa e comprovado que as propriedades em nome da família não “batiam” com o salário de funcionária pública, começaram os rumores a respeito das pessoas que colaboraram e acobertaram os desfalques. Ninguém acreditava que teria sido uma ação isolada, pois as operações exigiam complexidade de serviços técnicos de informática e outros, e o perfil e personalidade da ex-tesoureira eram, no mínimo, pouco ousados.
Desde então os santa-cruzenses comentavam, curiosos, nas esquinas da cidade: “Quem mais estava com Sueli?” Logo começaram a surgir nomes de políticos e outros funcionários públicos, mas seria necessária uma delação para que a Polícia pudesse investigar.
A tão esperada confissão aconteceu nesta semana, botando mais lenha na fogueira. O nome do ex-prefeito Adilson Mira já era cogitado como um dos possíveis mentores de todo o golpe, mas o fato só foi confirmado por Sueli Feitosa em entrevista coletiva organizada pelo advogado Luiz Henrique Mitsunaga, que aconteceu na quinta-feira em Bauru.
Ela relatou que os desvios tiveram início no governo do ex-prefeito Adilson Mira, quando foi indicada para um cargo comissionado na Secretaria de Finanças. O então secretário de Administração, Ricardo Moral, começou a pedir que ela fizesse retiradas, dizendo que “o chefe” precisava de dinheiro, referindo-se ao então prefeito.
Com a tranquilidade de que o esquema não seria descoberto, os desfalques continuaram por todo o governo Mira, estendendo-se pelos quatro anos da ex-prefeita Maura e até no início do atual mandato. A ex-tesoureira conta que passou a ser ameaçada, caso deixasse de fazer os desvios. Foi então que outras pessoas começaram a ter conhecimento dos desfalques, e passaram a chantageá-la, exigindo seu quinhão também. Segundo ela, o atual presidente da Codesan (Companhia de Desenvolvimento Santacruzense), Claudio Gimenez, passou a ameaçá-la, e ela entregava regularmente quantias de dinheiro que variavam de 5 a 10 mil reais, a um motoboy, a pedido dele.
Sueli Feitosa contou que a empresa Micromap, responsável pela informatização dos serviços na Prefeitura era quem falsificava os documentos e extratos bancários.
Mas a sujeira no ventilador se espalhou por outros cantos. Sueli também contou sobre a pressão que recebia para fazer pagamentos a empreiteiras, sobre dinheiro que seria pago como comissão sobre os serviços e disse também que o vereador Lourival Heitor seria o verdadeiro proprietário de empresa que presta serviços para a Prefeitura da cidade.
Como de praxe, os citados na confissão de Sueli Feitosa disseram que ela mentiu, que nunca roubaram nada e que são honestos e honrados e que vão provar isso.
O que diferencia o desvio de dinheiro público na Prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo do que acontece em Ourinhos, por exemplo, é a falta de punição aos envolvidos e comprometimento da imprensa com o acontecido.
É bom lembrar que num passado recente tivemos o escândalo chamado de “roubo dos vale-transporte” dos funcionários municipais, estimado em cerca de 4 milhões de reais, e até agora ninguém foi preso. Além desse, houve o desvio de cerca de 7 milhões de reais da Câmara Municipal. O ex-presidente da Câmara, José Claudinei Messias foi denunciado, mas o dinheiro não foi devolvido. Também envolvido no caso, o ex-vereador Oswaldo Barbosa renunciou ao cargo.
Enfim, em Ourinhos os desvios de dinheiro público acabam em pizza. A vizinha Santa Cruz do Rio Pardo tem muito a nos ensinar.
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