Do sexo à beatitude – Uma releitura do Paraíso

A expulsão do Paraíso, por Daniel Vertangen (1601-1683). Imagem: Wahooart

Por que o ser humano tem fixação pelo sexo? Por que o sexo é um TABU? Por que as religiões – em alguma medida, estão conectadas com ato sexual? Sexo como fim reprodutivo? Pelo prazer? Por que SEXO?

Antes de mergulharmos na questão propriamente dita, será necessário explorar outro conceito: o de PARAÍSO.

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Não sei você leitor (a), mas eu DESCONHEÇO uma sociedade, tradição, cultura ou religião, que NÃO tenha uma ideia, formulação, entendimento e/ou modelo de paraíso. Todas levam em seu arcabouço a concepção do “Jardim do Éden” que, por sua vez está intrinsecamente relacionado com felicidade, paz, bem-aventurança, etc..

Quer exemplos?

No Japão os Xintoístas falam do Takamagahara. Para os egípcios o melhor lugar de se viver é o Aaru. Nas religiões afro-brasileiras (como o candomblé e a umbanda) existe a Aruanda. Os chineses anseiam por um chá da tarde no Palácio de Jade. As narrativas judaico-cristãs falam que Deus expulsou Adão e Eva do Paraíso. Islâmicos morrem (no sentido literal) por um cantinho em Jannah.

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Você não acha curioso? Povos que estão distantes geograficamente uns dos outros e, contudo, terem idealização semelhantes de “lugar perfeito”. Claro! Cada cultura projeta um céu que mais lhe apetece, que mais lhe agrada. Os muçulmanos habitam regiões muito quentes e secas no globo terrestre, logo descrevem que o paraíso é fresco, com sombras revigorantes, onde o clima é agradável e brando. Quanto mais a pessoa é submissa a Deus, mais recompensas terá. Água pura à vontade, muitos rios, um mar de leite e outro de mel e também muitas Húris (virgens celestiais) criadas para serem subordinadas aos maridos que, por sua vez foram subordinados a Deus enquanto estavam na terra. Lembrei de uma citação de Paulo Freire (educador e filósofo brasileiro do século XX).

“O sonho do oprimido é ser opressor”.

Enfim, poderia dar inúmeros exemplos das diversas peculiaridades que cada cultura imagina sobre os lugares divinos. Poderíamos problematizar acerca das convenções morais, promessas de salvação ou ainda, vincular essa nostalgia que todos nós, cedo ou tarde sentimos com as doutrinas reencarnacionistas. Isto é, que a melancolia tem a ver com as vidas anteriores, com as possíveis colônias espirituais, planetas e até constelações em que já transitamos ou que fomos exilados. Uma sensação de não fazermos parte da loucura que é a vida, como se fôssemos um estrangeiro aqui – igual ao livro de Albert Camus (escritor e filósofo do século XX). Sentimos saudades de algum lugar que não sabemos bem onde é – talvez um paraíso perdido, quem sabe?

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Mas o objetivo não é esse. Não pretendo avaliar o que é certo ou errado, se existe tal coisa ou não e assim por diante. Gostaria somente de apresentar um viés de relação entre as raízes do sexo com a ideia de paraíso, e ninguém melhor do que Sigmund Freud (médico austríaco criador da psicanálise, 1856-1939) para as reflexões sobre a libido e o inconsciente.

Bom, antes de tudo eu não duvido da hipótese de que Freud era meio “louco”. Porém, reconheço que muitas das suas loucuras eram geniais. A grosso modo, os psicanalistas afirmam: “Somos mecanismos complexos e determinados por processos inconscientes”. Ou seja, na maioria das vezes não percebemos o que está acontecendo ou o motivo verdadeiro pelo qual estamos agindo. Eles são reflexos automáticos e provenientes de recalque, repressões, traumas, etc… E por que chegamos nesse assunto? Basicamente, para desvendar a fixação do ato sexual.

Enquanto um bebê se desenvolve no útero materno, ele está vivendo no paraíso. A temperatura é perfeita, os barulhos são sutis e ritmados, não existe fome e nem sede. Não lhe falta nada! Não há desejos e consequentemente não temos frustrações. Éramos felizes. Inclusive Aristóteles (filósofo grego, 384 a.C-322 a.C) define a autossuficiência como “Sendo aquilo que, em si mesmo, torna a vida desejável e carente DE NADA” e chama a isso de Felicidade… Experimentamos o “gozo” do Éden por meses: relaxados, satisfeitos e depois expulsos. Meu filho, Bento Macedo Tavernaro foi arrancado do paraíso. Eu estava lá. Vi tudo! O nascimento é traumático. De repente, tiram você de dentro do aconchego: luzes ofuscantes, quarto frio, gente conversando alto, choro e um final dramático: o rompimento do cordão umbilical. Alguém dá um tapa em você obrigando-o a respirar. Um ser que vivia em êxtase, que nunca precisou fazer nada, agora está por conta própria, à mercê da sorte e do esforço.

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Talvez por isso, a nossa busca por conforto e também o medo de perde-lo novamente: ar-condicionado, aquecedores, hotéis cinco estrelas, colchão d’água… Tudo para criar artificialmente o espaço uterino. A lembrança está gravada no inconsciente e ele grita para voltar. Uma memória irreversível. A mãe, para a criança é a mulher perfeita e o útero, o solo prometido. Mudaremos de casa, de trabalho, de parceiros(as), trocaremos os moveis de lugar ou compraremos móveis novos. Contudo, jamais voltaremos para o lar.

Consegue perceber onde está a relação com o sexo? O coito é simbólico… Basta analisar com calma. Os amantes querem estar perto fisicamente um do outro. Na verdade, gostaríamos de ficar dentro da pessoa (não no sentido vulgar, por favor). É NATURAL! Tudo começa no útero da mãe e termina no “ventre” da terra – o maior símbolo de amor que existe – É a busca eterna pelo paraíso perdido e o motivo de nunca estarmos satisfeitos.

A obsessão por transar é o desejo mais profundo de voltar para o início, à origem. O elo, o ÚTERO. E questões como: identidade de gênero, orientação sexual e outras terminologias, são irrelevantes, pois o fator em jogo não é a outra pessoa ser ativa ou passiva, binária ou não-binária, monogâmica ou poligâmica… Mas sim, a intenção de “relacionar-se” em todos os seus aspectos e manifestações, incluindo o sexo. Éramos unidos com nossas mães e nos separaram. A religião é a demonstração mais óbvia de religar – tanto é que a palavra em si no latim, quer dizer “religare”. Uma tentativa espiritual de nos unir com duas artérias e uma veia, ou seja: o cordão umbilical “divino”.

Nessa perspectiva, encorajo-me a dizer: Todo ser humano nasce clinicamente neurótico em busca de sexo e de beatitude.

| Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Jornal Biz. |

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