Uma ourinhense na rota francesa dos vinhos

Foto: Nadia Jung

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por Bernardo Fellipe Seixas | Jornal Biz

Viver em outro país é sempre um desafio. A distância da família e as diferenças culturais são enfrentadas pela ourinhense Lígia Salomão há oito anos, desde que decidiu viver em Beaune, na Borgonha, região central da França.

Vista parcial de Beaune. | Foto: Beaune-tourism

Com pouco mais de vinte mil habitantes, Beaune é famosa pelos vinhedos, além de ser palco de eventos culturais e gastronômicos.

Centro de Beaune

Essa vocação turística explica a existência de mais de quarenta hotéis e cento e cinquenta restaurantes espalhados pela cidade.

Segundo melhor livro na categoria vinhos da França, na Internacional Gourmand World Cookbook Awards

Formada em direito com especialização em administração de empresas, Lígia foi casada com um franco-brasileiro apaixonado por vinhos, o que levou o casal a optar por viver na França, onde trabalharam com consultoria e palestras a respeito do tema. Em dezembro de 2015 os dois lançaram o livro “Vinhos da Borgonha”, pela editora Melhoramentos, premiado pelo Internacional Gourmand World Cookbook Awards, realizado na China em maio de 2017, como segundo melhor livro na categoria Vinhos da França.

Sorte é que a Lígia não teve muitas dificuldades com a língua. Além de ter frequentado uma escola de idiomas em Ourinhos e um curso complementar logo que chegou na França, ela atribui essa facilidade também a outro fator:

“Li recentemente que existem estudos que evidenciam que o contato com a música ajuda no aprendizado de uma língua estrangeira”, justifica, agradecendo à mãe por ter aprendido a tocar piano.

Lígia e a filha Luísa

Apesar disso, não deve ser fácil educar a filha Luísa longe da família. Quando se mudou para Borgonha estava no sexto mês de gravidez, e ainda teve de encarar o final do casamento em um país estrangeiro. Mas a ourinhense arregaçou as mangas e foi à luta. Aproveitou a experiência no trabalho com os vinhos, e hoje é Coordenadora Logística da JFHillebrand. Seu trabalho é organizar o transporte marítimo do vinho produzido em diversas regiões da França em conteiners que são enviados para Nova Iorque. E não pense que é simples: Ela organiza a retirada das embalagens nas vinícolas, acertando com as companhias marítimas o lugar no navio. “Em um mesmo container, podemos encontrar às vezes vinhos de até 30 produtores diferentes. Cada atraso de mais de uma hora, é cobrado pelos prestadores e arcado pela minha empresa que não pode repassar este custo ao cliente, então preciso ser rápida em otimizar o tempo e custos”, ensina.

Enquanto a mãe está no trabalho, a filha permanece na creche. Ela frequenta a escola pública, que na França é paga. Lígia conta que os preços cobrados variam de acordo com a capacidade financeira da família.




“O custo da creche, por exemplo, pode variar entre 18 centavos e 3 euros/hora. Famílias menos favorecidas pagam menos. Assim, todos têm direito a frequentar os mesmos espaços e à mesma qualidade do serviço prestado”, conta, revelando que o apartamento onde vive também pertence a um projeto governamental de “habitações com aluguel moderado”.

Vinhedos da Côte de Beaune vistos a partir de um balão

Além de atender as necessidades dela e da filha, o apartamento possui uma sacada com vista para os vinhedos.




Lígia conta que os franceses amam a gastronomia. Na televisão, por exemplo, grande parte da programação se dedica à arte da mesa. “Enquanto se come – e uma refeição de verdade pode durar até 6 horas– fala-se da comida e como foi preparado cada prato que está sendo servido em uma sequência bem orquestrada de sabores”. O tema é levado a sério pelos franceses. Para se ter uma ideia, a cantina da creche onde sua filha passa o dia oferece refeição com uma entrada, prato principal , queijo e sobremesa.

Frutas, legumes, grãos: variedade no Mercado de Beaune.

“Recebo o cardápio do que será servido durante o mês. Nunca vi repetir um prato!” Lígia se diverte contando que para os franceses não tem assunto mais propício para puxar uma conversa que uma receita nova ou a descoberta de um restaurante. “Talvez tenha um: meteorologia. Como adoram falar do tempo!”

Na rede social, a postagem: “jantar com os amigos”.

Apesar da grande variedade e da qualidade dos alimentos, os brasileiros amantes do churrasco podem passar apertos na França. Um quilo de carne bovina custa em torno de 25 euros, o equivante a 92 reais (e não estamos falando de filé mignon…). Mas isso também não chega a ser um problema para ela. Como seu cardápio do dia a dia inclui também muitas frutas, legumes e cereais, encontrados com grande variedade e qualidade, ela consegue equilibrar também seu orçamento.

Dezembro de 2017: na sacada do apartamento, admirando a nevasca.

Todos esses anos vivendo na França aguçaram a percepção das mudanças nas estações do ano. Como faz muito frio a maior parte do tempo, com temperatura em torno de 0 grau durante quase seis meses, a chegada do verão é comemorada com entusiasmo.

“Tudo é motivo para ficar ao sol. Fazer piquenique é um hábito, e em todos os vilarejos existem locais equipados para isso, com mesas, cadeiras e lixeiras”.

Luísa colhendo uvas. | Foto: Nadia Jung

Como outros ourinhenses que vivem fora do Brasil, Lígia também se queixa da distância da família. “Ainda bem que existem tecnologias como o Skype e o WhatsApp para matar um pouco da saudade”, diz.

Entrevista concedida ao Jornal Biz em julho de 2017.

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