A indústria ourinhense em busca de novos caminhos

Foto aérea do Distrito Industrial I na década de 1990. | Foto: Luiz Carlos Seixas

Ofício do então prefeito Domingos Camerlingo Caló, de 19 de abril de 1968. No rodapé, o sonho de tornar Ourinhos uma cidade industrial.

“Ourinhos será em breve a maior cidade industrial do interior do Estado”. Esta frase estampava o papel timbrado usado pelo prefeito Domingos Camerlingo Caló, em sua segunda gestão, no período 1964-1968.

Alguns anos antes, algumas indústrias instaladas na cidade davam sinal de crescimento, como a Caninha Oncinha e a Usina São Luiz, o que pode ter entusiasmado o então prefeito. Outras começavam suas atividades, como a Colchões Castor, Sanbra, Marvi e Indústrias Zanutto.

Em 1963, a Sanbra era quem mais empregava em Ourinhos.

Um relatório da Polícia de Ourinhos datado de agosto de 1963 informa que 956 pessoas trabalhavam com carteira assinada nas indústrias ourinhenses. O mesmo relatório indica que, nesse período, a indústria que mais empregava era a Sanbra, com 179 empregados, seguidos da Com. Indústria Pecuária Ourinhos-Charque, que mantinha 67 trabalhadores.




Porém, não bastaram a tenacidade e teimosia dos pioneiros da indústria ourinhense nem os incentivos fiscais oferecidos pelo poder público em diversas ocasiões, anos depois. A verdade é que a indústria ourinhense não cresceu como imaginavam os políticos da década de 1960.

Setor de serviços é o grande propulsor da economia ourinhense. | Fonte: IBGE

Segundo dados do último censo sobre o assunto, publicado em 2015, o setor representou apenas 17,8% do Produto Interno Bruto (PIB).  Em compensação, a área de prestação de serviços cresceu muito na cidade, chegando a 57,5% do PIB.

VAB= Valor Agregado Bruto | Fonte: IBGE

O censo indica ainda que Ourinhos ocupa a 117º posição no “ranking das indústrias paulistas”, e a 392º no “ranking nacional”.

Dados do IBGE desde 2007 indicam tendência de crescimento nos empregos da indústria ourinhense.




 

Os primeiros empreendimentos industriais foram na área da ferraria e marcenaria, iniciados por imigrantes que chegaram a Ourinhos por volta de 1910. É o caso da Fundição de Ferro e Bronze, Serraria e Fábrica de Veículos Narciso Migliari & Irmão, mais tarde conhecida como Indústrias Migliari.

24 de agosto de 1938 – Caminhão estacionado à porta da Fundição de Ferro e Bronze, Serraria e Fábrica de Veículos Narciso Migliari e Irmão, na Avenida Jacinto Sá.

Instalada na Avenida Jacinto Sá, a empresa começou suas atividades fabricando carroças e carretões de boi. No final da década de 1920 imigrantes italianos vindos de Barra Bonita começaram a instalar as primeiras olarias, em uma área próxima ao que viria a se transformar na vila Odilon.




Em sua maioria, esses pioneiros trabalhavam com a família. Eram irmãos, filhos e poucos empregados que fizeram o negócio prosperar vencendo as dificuldades impostas por uma cidade que ainda possuía uma precária estrutura urbana. Além de ferramentas e técnicas rudimentares, tinham de enfrentar obstáculos como falta de água encanada, de eletricidade e estradas deficitárias.

Foto aérea do Distrito Industrial I na década de 1990.

As primeiras indústrias se instalaram em local próximo ao centro, mas a criação de distritos industriais proporcionou chances de crescimento e facilidades na logística e transporte de produtos e mercadorias. O primeiro Distrito foi criado no início da década de 1980, na gestão do ex-prefeito Aldo Matachana Thomé. Em 1994, o então prefeito Claury Santos Alves da Silva inaugurou o segundo Distrito, localizado na zona leste da cidade, às margens da rodovia Raposo Tavares.




Os dois foram instalados em local estratégico, ao lado da ferrovia e rodovias, visando facilidades no transporte. Outro Distrito Industrial, com foco nas pequenas empresas, foi criado na vila São Luiz durante a gestão do prefeito Toshio Misato. A criação desses espaços destinados à indústria na cidade foi seguida por política de incentivos oferecida pela administração pública, como a cessão de terrenos, o que possibilitou sua expansão.

Eugênio veio de Lins e abriu a própria empresa há quase 30 anos.

A mesma sorte não teve o empreendedor Eugênio Carlos Nunes da Silva, que não teve acesso a um terreno em um Distrito Industrial para instalar seu negócio. Como os primeiros industriais que aqui fizeram seu negócio prosperar e vieram de outras regiões, Eugênio veio de Lins há 30 anos, para começar sua pequena indústria, que teve início nos fundos de sua casa. Os tempos são outros, Eugênio é administrador de empresas, tem diversos cursos na área de gestão e trabalhou um tempo no Sebrae.

Pião boat, novidade no mercado.

Sua empresa, a Sports Freedom, instalada em barracão no Jardim América, vende pela internet, é a maior da América Latina, liderando o mercado na fabricação de infláveis como banana boat, bote de rafting, bumper boat, disco boat, parasail e mais uma infinidade de produtos para esportes radicais. Além da fabricação, a empresa também assessora na montagem dos equipamentos e treinamento de funcionários.

Parasail, para quem gosta de adrenalina.

A empresa que começou no quintal da casa de Eugênio hoje exporta para diversos países, e produtos fabricados em terras ourinhenses viajam para Dubai, Suíça, Itália e Estados Unidos.

Produção de banana boat.

De olho na sazonalidade das vendas de equipamentos náuticos, Engênio iniciou há algum tempo a fabricação de tanques para piscicultura. “Em períodos pré-verão os pedidos de brinquedos infláveis aumentam muito, precisamos dobrar o número de funcionários. Depois disso temos uma queda, por isso, além do trabalho de manutenção também fabricamos os tanques”, explica, comentando entusiasmado sobre as vantagens do uso desse tipo de tanque:

Tanques para psicultura: uma aposta de Eugênio para o futuro.

“Usamos material inerte, que não contamina a água, que pode depois ser utilizada como fertilizante. O manejo é facilitado, é possível controlar de perto o uso da ração, temperatura e qualidade da água. Temos tanques de tamanhos diferentes, e a durabilidade é de 50 anos”.




Apesar de nos últimos anos ter perdido o protagonismo na economia da cidade, a indústria ourinhense continua se reinventando e oferecendo empregos. Assim fizeram os pioneiros, e continuam fazendo jovens empresários que encontram na cidade espaço para o crescimento de seu negócio. Para sobreviver durante a crise econômica e enfrentar a concorrência com materiais produzidos na China, uma saída pode ser a fabricação de produtos para públicos específicos. Para a Sports Freedom, tem dado certo.

A série 100 Anos Ourinhos tem o apoio da Fundação Educacional Miguel Mofarrej, mantenedora das Faculdades Integradas de Ourinhos e do Colégio Santo Antonio Objetivo.

Para produzir este texto, a equipe Jornal Biz pesquisou em: Exemplares do jornal Voz do Povo, disponíveis em http://www.tertuliana.com.br/docs; site IBGE; site http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/acervo/repositorio_digital; texto: “A industrialização da região de Ourinhos: a dinâmica territorial das agremiações produtivas”, de Jean Carlos Izzo e Lucas Labigalini, Unesp de Ourinhos, 2014; além de entrevistas realizadas com Lauro Migliari e Eugênio Carlos Nunes da Silva.

Imagens: Blog de Wilson Monteiro, Acervo de Luiz Carlos Seixas, Bernardo Fellipe Seixas, Divulgação Sports Freedom.

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