Uma história de persistência e amor ao cinema

Os cartazes de filmes já estão meio desgastados pelo sol, mas ainda chamam a atenção de quem passa pelo número 1366 da Rua Padre Rui Cândido da Silva, na Vila Odilon. É ali que está instalada a única locadora de filmes de Ourinhos. Nos bons tempos desse tipo de negócio, a Ana Vídeo Locadora chegou a ter quatro unidades espalhadas pela cidade. A maior delas, na rua Paraná, onde hoje funciona uma pizzaria, fechou em 2011.

Afetadas diretamente pela pirataria, pela TV por assinatura e pela disponibilização de filmes pela internet, as locadoras brasileiras entraram num processo de extinção. Em Ourinhos, os espaços que abrigavam as locadoras hoje se transformaram em igrejas, restaurantes ou permanecem fechados em função da crise econômica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apaixonado por cinema desde a infância e admirador de cineastas como Roland Joffé, Almodóvar, Copolla e Bergman, o empresário Rodrigo Tojeiro adquiriu a locadora em 1993. O negócio era tocado por um casal vindo de São Paulo que não se adaptou à cidade. Localizada na avenida Altino Arantes, a locadora herdou o nome da antiga dona.

A qualidade do acervo e a habilidade em lidar com os clientes foram sempre um diferencial. “Quando assumi o acervo era pequeno, cerca de setecentos filmes em VHS, basicamente filmes antigos”, lembra Rodrigo. Isso alimentou ainda mais seu gosto pelos filmes clássicos e orientou a ampliação do acervo, que chegou a ter mais de vinte mil títulos. Assim como os frequentadores de livrarias, outra raridade nas cidades brasileiras, o cliente da locadora também gosta de uma boa conversa, de uma dica. “É um contato muito rico, além da orientação, a pessoa gosta de ficar à vontade, de olhar a capa, falar sobre filmes já vistos”, explica Rodrigo.

 

 

Quando é questionado sobre as dificuldades que atingiram o setor, ele relembra momentos difíceis vividos no passado, como a fase final do VHS, entre 2003 e 2005: “Como sabíamos que seria irreversível, quando o DVD foi lançado já começamos a formar um acervo para acompanhar a transição”. Mas ele não esconde a emoção quando se lembra do destino de milhares de filmes em VHS que se tornaram obsoletos, já que o aparelho deixou de ser produzido e a manutenção das fitas continuaria sendo uma despesa. Rodrigo conta, com tristeza, que teve de descartar duas caçambas de filmes. Hoje ele mantém em casa cerca de cinco mil títulos em VHS que ainda não existem em DVD.

 

Em 2011, a crise provocada pela pirataria e pelos chamados “Skygatos”, foi sentida com mais intensidade. Das quatro unidades, foi mantida apenas a da Vila Odilon, instalada num imóvel da família, onde foi reunido todo o acervo. A loja do bairro, que era administrada pelo irmão, já possuía uma clientela. Aos poucos, segundo Rodrigo, os frequentadores mais habituais do centro começaram a aparecer também. “Hoje temos uma clientela bacana”, diz satisfeito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ele sabe que hoje a Internet, principalmente a Netflix, são seus grandes concorrentes. Uma das estratégias é investir cada vez mais no gosto dos clientes, no atendimento atencioso. “Atendemos todos os tipos de público, do cliente que busca o lançamento que está na mídia, ao mais exigente, que curte um clássico, um filme mais antigo”. É o caso de Laércio Reis, cliente assíduo da locadora há muitos anos: “Sou cinéfilo, gosto de garimpar filmes, dramas, épicos, clássicos da história. Aqui encontro filmes do Irã, da Índia. É o que diferencia a locadora, o cuidado que o Rodrigo tem. Isso porque ele faz o que gosta”, explica.

 

Mesmo fazendo o que gosta, Rodrigo sabe que não será fácil enfrentar uma realidade que não é muito animadora. Durante a conversa, ele se recorda das locadoras que fecharam recentemente na região. Mas não se intimida, e se algum tempo atrás passou pela sua cabeça abandonar o barco, hoje ele prefere tirar proveito da situação: “Tínhamos um espaço amplo no centro da cidade. Aqui é menor, mas também é mais acolhedor, me aproximo mais do cliente”. Quando os amigos dizem que ele será o último, que vai apagar as luzes, ele reage: “Ainda tenho muito fôlego para resistir”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O tapete “capacho” da Ana Video Locadora.

ANA VIDEO LOCADORA – (14)3326-4380

 

Original por TERTULIANA – www.tertuliana.com.br

1 COMMENT