Sérgio e seu filho de papel

Sérgio Fleury no programa de Jô Soares. | Foto: SBT

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por Luiz Carlos Seixas

O Debate faz aniversário e eu é que me sinto mais velho! Tem sido assim de uns anos para cá. No começo era só um número que mudava no cabeçalho do jornal, sempre para mais, e assim foi por um bom tempo. Mas, como aprendemos em O Amor nos Tempos do Cólera, de repente, tudo começa a fazer 30 anos – é quando a gente percebe que está ficando velho.

 

Fisicamente, 30 quilômetros e uma praça de pedágio me separam do Debate. Eu não sei de onde esses putos tiraram a ideia de chamar pedágio de praça; ali não tem pipoqueiro, nem banda, nem namorados se beijando – só tem sacanagem! Mas isso é outra história, ou outra crônica. Coincidentemente ou não, encontrei o Sérgio na noite dessa quinta-feira em que o seu jornal completou 38 anos de existência. O Palácio da Cultura de Santa Cruz do Rio Pardo estava lotado mais uma vez por obra e graça da música de Jean Freitas, quando alguém o cumprimentou pela data. “Então, estamos todos de parabéns”, eu disse. Como disfarçar o orgulho de ser o colaborador mais antigo do jornal em atividade?

 

 

E olhando para o meu cunhado, tão diferente e ao mesmo tempo tão parecido com aquele menino que conheci em 1977, eu pensei em como ele poderia estar se sentindo ao ver surgirem os primeiros cabelos brancos nesse seu filho único de papel. O jornal é para o Sérgio mais do que um filho. E digo isso mesmo sabendo não existir amor maior do que o de um pai ou mãe para com um filho. Ocorre que o Debate nasceu bem antes dos filhos naturais do Sérgio – todos homens, por sinal. E desde o número zero – para o qual eu colaborei com a entrevista que fiz com Chico Buarque em sua casa, no dia em que o compositor comemorava o seu 33º aniversário – o jornal é o seu único brinquedo, o seu bebê que acorda chorando de madrugada, a sua cachaça e o seu ganha pão.

 

Na infância, Sérgio brincava de fazer jornal recortando o Estadão do seu Celso, o maior amigo e apoiador que o Debate teve nesses anos todos. E olha que não são poucos os amigos do jornal. Certamente mais numerosos e inteligentes do que os inimigos do Sérgio. O resultado do brinquedo era um exemplar único que ele vendia para o seu avô Nelson. Penso que em alguns momentos da madrugada, trocando a fralda do bebê, fazer jornal continua para ele uma brincadeira. Pode ser quando chega a charge da semana ou a notícia de uma trapalhada de algum político da região e ouve-se o Sérgio repetindo da sua sala a risada trepidante dos Fleury.

 

Não sei se Sérgio Fleury Moraes é cidadão santa-cruzense. O título de cidadania sem sendo repetidamente tão avacalhado que eu nem imagino se isso faria falta a ele, nascido em Santo Anastácio. Mas, se o argumento para se conceder tal deferência são os bons serviços prestados ao município, não conheço alguém que pudesse ser mais santa-cruzense do que o Sérgio. São quase quatro décadas de um trabalho pesado e dedicado em prol da cidade e de sua gente. Um trabalho reconhecido e elogiado em âmbito nacional por quem entende de jornalismo de verdade. Só encontro paralelo para o que Sérgio faz por Santa Cruz no mundo circense, entre trapezistas, equilibristas, mágicos, malabaristas, o homem do globo da morte, o domador de feras, o clow, o vendedor de pirulitos, a moça que se coloca à frente da tábua para o atirador das facas… O circo é a soma dessas pessoas, ou, se preferirem, um jornal coberto de lona.

 

Publicado no Jornal Debate em 27/09/2015, edição de aniversário de 38 anos.

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