Sem contrato com a SAE, Recicla Ourinhos pode demitir 110 funcionários

A Superintendência de Água e Esgoto de Ourinhos (SAE) lançou um edital para realização de licitação com objetivo de contratar empresa para realizar o serviço de coleta seletiva na cidade. O pregão está marcado para o próximo dia 28, e a iniciativa gera polêmica, pois pode inviabilizar o trabalho da Cooperativa Recicla Ourinhos, que faz esse trabalho na cidade há quase 20 anos.

O Recicla emprega 110 pessoas, a maioria mulheres. “É assim em todas as Cooperativas, existem muitas mulheres trabalhando, são mães e avós.  Temos muitas idosas também, que não encontrariam emprego em outros lugares. Serão muitas famílias desamparadas se ficarmos sem o contrato”, informa Juliana Mota, presidente da entidade.

Na esteira, a separação dos vários tipos de lixo reciclável.

A Cooperativa foi criada durante a gestão de Claudemir Ozório Alves da Silva, tio do atual prefeito, e o trabalho dos catadores é muito importante para a cidade, pois diminui o lixo que é encaminhado para o aterro sanitário, e possibilita que o material arrecadado seja reciclado, contribuindo para melhorar o meio ambiente. Desde que a Cooperativa foi fundada, os ourinhenses aprenderam a separar o lixo orgânico daquele que pode ser reciclado, e se acostumaram com a presença dos catadores.

Uma das equipes de coleta do Recicla Ourinhos.

Apesar das promessas feitas durante a campanha eleitoral, na prática a gestão Lucas Pocay tem dificultado o trabalho dos catadores. A SAE e a Cooperativa Recicla Ourinhos mantiveram um contrato nos últimos 10 anos. O contrato terminou em janeiro, e foi estendido somente até março.

Montanha de plástico.

O espaço onde são realizados os trabalhos de separação, prensagem e comercialização do material foi cedido para o Recicla pela Prefeitura, por comodato, por 30 anos, assim como dois caminhões para coleta. A SAE também assume as despesas com água e luz, mas a entidade realiza ali outros projetos com recursos federais e outras fontes.

Funcionário mostra o lixo reciclável prensado, pronto para comercialização.

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A presidente da entidade, Juliana Mota, explica: “A SAE diminuiu o valor do contrato, e isso gerou dificuldades para nós. Em 2017, ficamos um mês e meio sem receber e tivemos que recorrer ao fundo reserva para pagar os salários. Temos tido muitas dificuldades com esta gestão. Vínhamos trabalhando com alguma reserva em governos anteriores, mas agora não temos mais. Trabalhamos hoje para comer amanhã, não temos mais reservas”, lamenta, dizendo que toda a documentação da Cooperativa está em ordem e as contas são aprovadas anualmente pelo Tribunal de Contas.

“Temos muitas idosas que não encontrariam emprego em outros lugares. Serão muitas famílias desamparadas se ficarmos sem o contrato”, diz Juliana.

“Tem gente que fala mal do nosso trabalho, e outros se aproveitam para denegrir, já que possuem interesse nisso. Mas temos respondido na justiça a todas as indagações”, afirma Juliana, referindo-se a queixas de ex-cooperados que acusam a entidade de falta de transparência e divisão de lucros.

Além do contrato mensal com a SAE, a Cooperativa sobrevive da venda do material coletado. Depois de separado nas esteiras, o material é prensado separadamente e vendido. “Acontece que junto com o reciclado vêm muito rejeito”, explica Patrícia, vice-presidente da Cooperativa, um tipo de material que não pode ser comercializado, como roupa, madeira, sacos de salgadinho, de café, extrato de tomate de sachê, isopor ou embalagem de leite Sheffa. Isso precisa ser descartado”.

Dentro de um dos barracões, material prensado para venda.

A licitação marcada para o dia 28 já é a segunda tentativa da SAE em contratar empresa para realizar o serviço de coleta. O primeiro pregão foi impugnado pela Cooperativa Recicla Ourinhos. Juliana Mota não comenta se a entidade vai participar da disputa:

“Não entendemos o motivo pelo qual a prefeitura abriu a licitação, já que só existe a nossa cooperativa prestando esse tipo de serviço na cidade, e o nosso trabalho também é social. Não estamos impedidos de participar, mas o edital pede coisas que não podemos fazer como ter que depositar 5% de adiantamento, o que dá 65 mil. Nós não temos esse recurso”, conta.

O clima entre os catadores é de apreensão. “É muito triste isso, nós sobrevivemos do material reciclado”, diz Patrícia, e Juliana resume: “Eu acho que eles estão dificultando pra nós porque querem terceirizar”.

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Apesar da indefinição, o trabalho continua acontecendo em meio a um clima de camaradagem. Quando perguntamos sobre os objetos interessantes que as pessoas costumam jogar no lixo, ficamos sabendo que há pouco tempo um catador que trabalha na esteira achou um pacote com mil reais. “O dono do dinheiro é quem acha. Também já achamos um dente de ouro e dólares!”, contam entusiasmados.

O clima volta a ficar tenso quando o assunto é o relacionamento com o prefeito: “Ele não quer falar com a gente, não nos recebe para conversar. Mandamos ofício, fomos até o Gabinete… ele não responde”.

Interessante é que, apesar de possível perseguição contra a Cooperativa Recicla Ourinhos, recentemente o prefeito Lucas Pocay (PSD) apoiou a criação de outra entidade parecida, a Cooperativa Brasileira de Profissionais das Artes, que acabou no olho do furacão envolvida em denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro. O caso envolve desvio de dinheiro público e vem sendo investigado pela polícia e pelo Ministério Público, além de uma CPI instalada pela Câmara Municipal. Essa cooperativa foi criada pelo ex-Secretário de Cultura Paulo Flores, com a finalidade única de firmar contrato com a Prefeitura. Depoimentos da presidente da entidade e provas documentais demonstram a má utilização de recursos públicos.

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