Nossa aventura pelo lugar onde jesuítas fundaram uma missão no século 17

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Por Marco Aurélio Gomes

‘Ourinhenses Around The World’ é uma série de reportagens do Jornal Biz onde moradores de Ourinhos contam suas experiências vivendo ou viajando ao exterior.

Quando visitamos as ruínas da Missão Jesuítica de San Ignacio, no norte da Argentina, fiquei admirado com a capacidade daqueles padres malucos que saíram da Europa para enfrentar os desafios da selva. Rogério, Neusa e eu fomos a San Ignacio em 2022, quando a cidade ainda se recuperava dos efeitos da pandemia. Os jesuítas chegaram lá no início do século 17, conseguiram atrair os indígenas e construíram gigantescas e planejadas estruturas de pedra.

Ruínas de Misiones, na Argentina. | Foto: Marco Aurélio Gomes
Marco Aurélio observa ruína com grande marca das missões jesuítas. | Foto: Neusa Fleury

Lembrei de San Ignacio quando li há poucos dias o conto Mel Silvestre, do escritor uruguaio Horacio Quiroga. Depois de participar de uma expedição a San Ignacio em 1903, Quiroga se apaixonou pelo lugar e resolveu viver na selva, plantando e construindo ele próprio tudo que precisava. Considerado um dos maiores contistas latino-americanos, suas histórias se passam naquele ambiente desconhecido e muitas vezes hostil.

Horacio-Qurioga-construia-tudo-que-precisava-para-viver-na-selva-de-San-Ignacio. | Imagem: Enciclopédia de Humanidades

É caso de Mel Silvestre, que integra a antologia Contos de Amor, de Loucura e de Morte, publicada em 1917. Decidido a se aventurar pela selva, um jovem contador “pacífico, gorducho e de cara rosada”, acaba devorado pelas temidas formigas carnívoras da região. Antes de se tornar um esqueleto desprovido de qualquer sinal de carne, o contador se deliciou com a doçura do mel das abelhas que encontrou pelo caminho. Abatido pela própria inexperiência, o personagem foi vitima de substâncias alucinógenas e paralisantes presentes naquele mel. Transformou-se em presa fácil para as formigas.

A Missão Jesuítica de San Ignacio chegou a reunir milhares de guaranis, que receberam noções de construção, produção de ferramentas e de instrumentos musicais. A aprendizagem musical era utilizada no processo de catequização dos indígenas, objetivo maior dos padres. As ruínas dão a dimensão exata do que foi aquela experiência. Desde 1984, o lugar é considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Quem tiver interesse em conhecer mais sobre a aventura dos jesuítas na América, pode começar assistindo o filme A Missão, lançado em 1986. Dirigido por Roland Joffé e estrelado por Robert de Niro, o filme retrata com belas imagens e música de Ennio Morricone, o auge e a destruição de uma missão fundada no século 18.

O filme A Missão ressalta o papel da música na catequização dos guaranis. | Imagem: Reprodução Warner Bros.

Como Neusa e eu criamos abelhas sem ferrão, já tínhamos ouvido falar de uma abelha que produz um mel com efeitos alucinógenos, encontrada em algumas regiões do Brasil. Não acredito que seja a mesma espécie encontrada pelo personagem do livro de Quiroga. Dizem que seria utilizada em rituais indígenas. É conhecida popularmente pelo nome de Feiticeira. Nada mais apropriado.

Ruínas de San Ignacio, norte da Argentina.

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