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JORNALBIZ.COM – Publicado em 14/02/2018
Uma imagem de 1928 mostra um grupo de pessoas fantasiadas na carroceria de um veículo coberto de serpentinas. Ourinhos ainda não havia completado dez anos e durante a maior festa popular brasileira as pessoas já se animavam para o corso, um desfile de carros enfeitados criado no início do século 20 para brincar o carnaval. O carro da foto pertencia ao empresário Ítalo Ferrari, que aproveitava a festa para fazer propaganda de seus produtos.
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O carnaval é uma festa pagã com origens na antiguidade, e no Brasil surgiu com o entrudo ainda no período colonial. De origem portuguesa, o entrudo foi trazido ao país ainda no século 16. A brincadeira era praticada com certa violência pelos escravos que saiam às ruas arremessando bolinhas de cera cheias de água, que nem sempre era limpa, além de farinha e cal. Para não se misturar aos escravos, as famílias mais abastadas mantinham distância. O entrudo acabou criminalizado e a elite do Império, empolgada com os bailes de máscaras da Europa, acabou criando os bailes de salão para festejar o carnaval. O primeiro baile carnavalesco foi realizado em 1840 no Hotel Itália, no centro do Rio de Janeiro. Os convites custavam 2 mil réis, com direito ao buffet.
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Em Ourinhos, as primeiras notícias sobre os festejos carnavalescos datam do início da década de 1930. A edição de 22 de fevereiro de 1931 de A Voz do Povo trazia informações sobre a animação daqueles que se encontravam sob “o reinado do Deus da Folia”. Naquele ano, enquanto no tradicional Grêmio Recreativo de Ourinhos a orquestra veio especialmente de São Paulo para animar o baile e seus concursos de fantasias, no Hotel Adelino, segundo a nota do jornal, “o operariado também entrou na folia”.
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Os bailes de carnaval eram movimentados em Ourinhos. Os blocos chamavam a atenção pelo cuidado com as fantasias, e os foliões ostentavam animadamente seus tubos de lança-perfume. O produto só se tornaria proibido no Brasil em 1961, por meio de um decreto do presidente Jânio Quadros.
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Na década de 1980, além do Grêmio Recreativo, muitos clubes da cidade promoviam bailes de carnaval, como o Clube Atlético Ourinhense, o Tênis Clube, o Esporte Clube Olímpico, o Clube Balneário Diacuí, o Esporte Clube Gazeta e o Centro Comunitário da Vila Odilon.
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Antes desse período, um clube marcou época na vila Margarida, o Palmeirinhas, onde também aconteciam bailes de carnaval. Os salões ficavam lotados nos quatro ou cinco dias de festa. As bandas tocavam até quase de manhã, e além das tradicionais marchinhas o repertório incluía também algum sucesso do momento. Havia ainda as matinês, destinadas às crianças e aos mais jovens que ainda não podiam frequentar os bailes da noite.
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Nas ruas ou nos clubes, o carnaval sempre foi festejado de alguma maneira na cidade. Durante os anos 1990 os carnavais de rua ganharam fôlego, sempre com o apoio oficial da prefeitura. Alguns bairros da cidade mantinham certa vocação para o carnaval, como a Vila Boa Esperança, a Barra Funda e o Jardim Matilde.
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Uma personagem sempre lembrada quando o assunto é carnaval de rua é Terezinha Paixão, antiga moradora da Vila Boa Esperança e uma das responsáveis pela escola de samba do bairro.
“Era preciso mobilizar as pessoas e costurar as fantasias dos destaques”, lembra dona Tereza. Além da produção, Tereza Paixão integrava a ala das baianas da escola Vila Boa Esperança.
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Nesse período, as escolas de samba contavam com a experiência e a ousadia do carnavalesco e diretor teatral Sérgio Nunes. Com parte de sua história dedicada ao carnaval, Sérgio auxiliava as escolas na concepção do samba enredo, na produção dos carros alegóricos e na mobilização das pessoas que se contagiavam com seu entusiasmo.
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“O Sérgio foi um dos melhores, trouxe uma experiência muito grande pra gente. Brigava quando era preciso, mas fez muita diferença”, conta dona Tereza.
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Outro que gostava de “cair na folia” e lembra com saudade de outros carnavais é o professor Flávio Bitencourt: “Sempre gostei, desde criança. Eu fazia parte da Cruzada Eucarística em Santa Cruz do Rio Pardo. Contaram para a freira que eu fui pular carnaval e acabei expulso da Cruzada”. Em Ourinhos, Flávio participava dos bailes no Grêmio Recreativo:
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“Tinha o bloco dos Mori, a Turma do Bolinha, que era um bloco só de homens. Depois dos bailes tinha canja no Bar Jaracatiá e no Bar da Dorli Curi, perto do correio. Tinha canja e sopa de cebola, abriam depois da meia noite e ia até 6 horas. Colocavam uma tigelona na mesa, queijo ralado e pão quentinho. Era bom demais”.
Flávio lembra também dos blocos que desfilavam nos carnavais de rua: “Teve um ano em que retratamos o Bar Marabá, que vendia um famoso sanduíche de pernil. Eu peguei um osso, encapei com jornal e fiz um pernilzão. Tinha uma carreta que retratava o bar com um sofá e as cadeiras com as putas sentadas. Desceram na carreta o Brigadeiro, o Zé Nelson, o Mistugui, o Pedrinho do Bazar. A gente ia pra rua brincar”.
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E quando o assunto é carnaval, ninguém incorporava o espírito da folia como o saudoso Pedrinho do Bazar. Proprietário do mais famoso bazar da cidade, localizado na Rua Antônio Prado, ele vivia o carnaval com uma alegria contagiante. Figura conhecida pela irreverência e bom humor, Pedrinho foi destaque da Escola de Samba Unidos da Barra Funda em 1995, e foi aplaudido pelo público que acompanhava o desfile na Avenida Altino Arantes.
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Com o passar dos anos o carnaval em Ourinhos foi se transformando e perdendo sua espontaneidade, se tornando apenas um evento oficial idealizado e patrocinado pelo poder público. As orquestras que animavam os bailes com as antigas marchinhas e os concursos de fantasia fazem parte de um tempo remoto. Os carnavais de rua que reuniam milhares de pessoas no desfile das escolas de samba e dos blocos há muito tempo deixaram de ser realizados. Os clubes, com raras exceções, já não promovem mais os bailes de salão e muitos já nem existem mais. A brincadeira, a alegria e o deboche que inspiraram as gerações de foliões que viveram os carnavais do passado, hoje não passam de boas lembranças.
A série 100 Anos Ourinhos tem o apoio da Fundação Educacional Miguel Mofarrej, mantenedora das Faculdades Integradas de Ourinhos e do Colégio Santo Antonio Objetivo.
Para produzir este texto a equipe do Jornal Biz pesquisou em: “Cinco séculos de Brasil: Imagens e Visões”, de José Arbex e Maria Helena Valente Senise (Editora Moderna, 1998), Jornal “A Voz do Povo” (Edições de 1931 e 1936) e Jornal “Diário da Sorocabana (Edição de 1973), disponíveis em http://tertuliana.com.br/docs , site Memórias Ourinhenses https://ourinhos.blogspot.com.br Foram entrevistados Tereza Paixão e Flávio Bitencourt.
Fotos antigas: Francisco de Almeida Lopes, Acervo Nilo Ferrari, Museu Municipal de Ourinhos, Grupo Galera de Ourinhos Facebook, Luiz Carlos Seixas.
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