Relato de uma enfermeira ourinhense que teve quase toda a família contaminada pelo novo coronavírus
A pandemia que há meses vem afligindo todos os povos do planeta tem afetado especialmente o Brasil. Aos poucos vamos descobrindo histórias tristes e outras de superação. É o caso da enfermeira Ana Paula Marques Raposeiro. Aos 29 anos, com três filhos e três empregos, Ana Paula resolveu mandar as crianças para a casa dos avós paternos, em Ribeirão do Sul, assim que começou o isolamento social: “Achamos que lá elas estariam protegidas, já que, como eu trabalho na área da saúde, poderia expô-las ao vírus. Os avós não saem de casa, e eles estariam seguros e longe da doença”.
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Os filhos Maria Eduarda, 10 anos, João Vítor, 7 anos e Maria Luisa, 3 anos, ficaram dois meses e duas semanas na casa dos avós. Nesse período, o pai das crianças, que é separado de Ana Paula, continuou trabalhando como motorista e passou cinco dias com a família em Ribeirão do Sul com a esposa. Logo que voltou para casa, teve início o drama da família. Ele e a mulher começaram a sentir sintomas, como dor de cabeça, garganta e falta de ar. Os dois fizeram o teste rápido para Covid-19, e o resultado foi positivo. Com idade avançada, os pais dele fizeram o teste e o resultado também foi positivo.
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Ana Paula conta das dificuldades: “Os avós deram positivo, as crianças foram as últimas a fazer o teste. No começo do mês eu fui pra Ribeirão do Sul, os avós não estavam bem. Cheguei lá os dois pequenos sentados de cabeça baixa… queriam me abraçar e não podiam. Já fazia dois meses e duas semanas que eu não os via pessoalmente, só por vídeo chamada… nem o dia das mães eu passei com eles”, lamenta. Somente o teste da caçula, Maria Luísa, deu negativo. As outras duas crianças também estavam contaminadas. “Quando deu negativo o exame da Luiza foi uma sensação de alívio, mas na mesma hora de tristeza porque queria trazer ela com os irmãos”, conta.
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No dia 3 de junho os avós precisaram ser hospitalizados, e a mãe voltou para Ourinhos trazendo os três filhos, com a caçula indo para a casa da avó materna. Enquanto isso, o pai das crianças e a madrasta já estavam internados no Hospital Covid. Logo em seguida os avós também ficaram hospitalizados. “Os avós ficaram internados por seis dias, e o pai e a madrasta por cinco dias. A Santa Casa me afastou para que eu pudesse cuidar deles”.
Foram vários dias sem sair de casa. “Não foi fácil ficar trancada com as crianças. Eles queriam sair pra rua, ir para o campo de futebol. Estão acostumados a brincar na calçada, então foi muito ruim. Por outro lado, esse período aproximou mais a gente, eu pude cuidar deles o tempo todo e foi bom”, conta Ana Paula.
Mais do que o isolamento, a preocupação de Ana Paula era com uma possível evolução da doença: “Foi muito difícil. Quando acontece com alguém próximo é que percebemos o medo que dá. A gente não sabe como a doença vai evoluir, e como eu trabalho na área da saúde, sabia tudo o que aconteceria com eles se piorassem, isso me agoniava”.
Não bastasse a aflição de ter toda a família doente, Ana Paula ainda sofreu com sentimentos de culpa: “Eu mandei as crianças pra lá pra proteger meus filhos. Ficava angustiada pensando que se não tivessem ido, talvez não fossem contaminados”.
Depois de toda a luta cuidando da família, Ana Paula comemorou o fato de que seu exame deu negativo. “Minha neném e eu não pegamos o vírus. Foi por Deus”, disse. Maria Eduarda e João Vítor tiveram alta na última quinta-feira, 18, e são considerados curados.
A enfermeira Ana Paula volta aos trabalhos em plantão na Santa Casa de Ourinhos na noite desta quinta-feira. Após cuidar de seus tesouros mais valiosos, ela vai continuar a luta contra a Covid19.
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