Minoria entre os inscritos, homens tem melhores notas no Enem

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Apesar das meninas serem maioria entre os inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), são os meninos que tiram as melhores notas. Este é o resultado de uma pesquisa feita pelo jornal Estado de São Paulo, publicada em 14 de janeiro, que tabulou dados de 2016. Dentre as mil melhores notas, 72% são homens.

Os mil melhores avaliados tem idade entre 17 e 19 anos, a maioria estudou em escolas particulares e possui renda familiar acima de 10 mil reais.

Os jovens do sexo masculino se saem melhor nas quatro áreas, mas a maior diferença está nos exames de matemática e ciências da natureza (física, química e biologia).

Priscila Cruz, presidente do Movimento Todos pela Educação, avalia que “O que se espera, nas famílias e nas escolas, é que as meninas sejam melhores em se comunicar, em se expressar, e não que elas se saiam bem em matemática. Essa expectativa sobre elas e delas mesmas influencia muito na aprendizagem”.

Mas a desigualdade não se refere apenas ao gênero. Meninas negras, que são a maior parte dos inscritos no Enem, representam só 6% das notas mais altas. E os meninos negros tiram notas piores que os brancos.

Uma avaliação internacional chamada Pisa, feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que a disparidade nas notas também acontece em outros países. A pesquisa é feita através de questionários aplicados nos estudantes e também respondidos pelos pais. Uma conclusão é que estudantes mais motivados recebem as melhores notas, e que fatores ligados à atitude e mentalidade do aluno afetam mais seu desempenho do que a origem socioeconômica.

Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco

A desigualdade que se verifica quando se compara o desempenho de brancos, negros, meninas e meninos é tão preocupante que o Instituto Unibanco financia projetos que estimulem meninas a se envolver com Exatas. “A escola brasileira produz desigualdades. Ela acolhe o padrão de desigualdade e ainda tem o efeito perverso de entregar, no fim da educação básica, com mais desigualdade ainda”, afirma o superintendente executivo do Instituto, Ricardo Henriques, dizendo ainda que “os estereótipos também são produzidos em casa. Vai desde a primeira infância, com jogos e brincadeiras diferentes para meninos e meninas, que inibem a performance das jovens”. Brinquedos como blocos de montar e jogos de raciocínio acabam sendo mais direcionados aos meninos, enquanto as meninas ficam com as bonecas.

Formação dos pais influencia no desempenho escolar dos filhos.| Imagem: internet

Outros fatores contribuem para o sucesso dos alunos classificados entre as mil melhores notas: a formação dos pais e o fato dos alunos não trabalharem, dedicando todo o tempo ao estudo. Mais de 70% desses alunos têm pais formados em ensino superior ou pós-graduação, e 90% deles nunca trabalharam.

Vanderlan Bolzani, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Ciência, é uma jovem paraibana que venceu as dificuldades amparada pela família, e estudou Química na USP.

“Adorava brincar de bolinha de gude com os meninos, criava estratégias. O que tem para pensar numa brincadeira de casinha ou boneca? Somos culturalmente educadas de maneira diferente, mas a capacidade é a mesma. O importante é que as meninas tenham modelos para se inspirar”.

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