A equipe responsável pela maior série jornalística sobre o centenário de Ourinhos

Bernardo, Rogério, Neusa e Marco Aurélio.

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Redação Jornal Biz

Quando afirma que existe um grande interesse popular pela história, o historiador brasileiro José Murilo de Carvalho lembra que alguns dos principais sucessos editoriais do país são livros que tratam de temas históricos, sendo que muitos resultaram do trabalho de profissionais de outras áreas. Logicamente que o autor de tantas obras de referência da historiografia brasileira não está desmerecendo a produção acadêmica, mas reconhece a necessidade de textos que também privilegiem a acessibilidade do leitor comum, que se interessa pela história do país ou da cidade onde vive.

Desde o lançamento da Série 100 Anos Ourinhos em novembro de 2017, o Jornal Biz sempre buscou atingir o público que se interessa pela história da cidade, apresentando uma nova abordagem sobre episódios conhecidos ou revelando novas informações e documentos de fatos significativos da história ourinhense. Muita pesquisa envolveu o projeto jornalístico que homenageia a cidade que comemora seu primeiro centenário no próximo dia 13 de dezembro: “Pensamos em realizar um projeto que se desenvolvesse ao longo de 2018, que servisse de ferramenta para professores e alunos, atingindo também outros interessados na história da cidade”, conta Bernardo Fellipe Seixas, editor-chefe do Jornal Biz e responsável pelo projeto gráfico da série.

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Além de Bernardo, outros três profissionais integram a equipe que pesquisou e produziu os textos publicados quinzenalmente no jornal: Rogério Augusto Singolani, Marco Aurélio Gomes e Neusa Fleury Moraes. O fato de trabalharem juntos há muito tempo contribuiu para que o desafio fosse encarado: “É um projeto que exigiu muita sintonia, mas conseguimos nos dividir nas tarefas que envolveram uma pesquisa abrangente, a produção dos textos e a edição final para publicação. Somente a edição de imagens foi realizada exclusivamente pelo Bernardo”, revela Neusa Fleury.

Neusa, Marco, Rogério e Bernardo na estação ferroviária de Ourinhos.

Rogério e Marco Aurélio são formados em história, o que motivou ainda mais suas participações. Segundo Marco Aurélio, apresentar os episódios de forma atrativa para o leitor comum foi um grande desafio: “Queríamos que as pessoas se apropriassem da história da cidade através de uma leitura prazerosa e ilustrada, produzindo um texto acessível, mas sem cair na superficialidade”.

Textos históricos de fácil compreensão mas sem superficialidade, preocupação do historiador Marco Aurélio Gomes.

Na avaliação de Bernardo Fellipe, a série pode ser considerada uma importante referência para consulta e sua disponibilização gratuita na Internet permite o acesso ilimitado para qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, e como continuam na página, os textos podem ser acessados a qualquer momento: O fato de ser online amplia seu alcance e democratiza o conhecimento. Alguns leitores da série nasceram em Ourinhos e hoje moram longe, até em outros países, mas demonstraram grande interesse nas histórias de sua cidade natal.

“A série deixa um registro único sobre a história da cidade e seu povo”, diz Bernardo.

Bernardo lembra que muitos comentários postados nas redes sociais indicam que vários temas abordados eram desconhecidos pela população: “Constatamos que as pessoas desconheciam vários acontecimentos revelados pela série, como a expedição comandada pelo engenheiro Theodoro Sampaio que passou pela região. Isso foi muito gratificante”. Bernardo se refere ao tema do primeiro episódio que trouxe informações sobre a expedição de reconhecimento comandada pelo engenheiro baiano, que percorreu todo o Vale do Paranapanema e passou por essa região em 1886.

Aldeia Cuyabá – índios cayuás. Região próxima às margens do Rio Paranapanema, 1906.

Além da pesquisa bibliográfica, a produção da série envolveu consultas a arquivos históricos e bancos de dados. “Foi um trabalho que exigiu muita persistência, e cada nova informação contribuiu para o enriquecimento da pesquisa”, diz Rogério Singolani. Exemplo disso foram as consultas para produzir o episódio sobre os efeitos do golpe militar de 1964 em Ourinhos: “Realizamos uma intensa pesquisa nos arquivos dos órgãos de repressão que atuaram durante a ditadura, e acabamos revelando que muitos ourinhenses foram fichados no DOPS, acusados de atitudes subversivas”.

Em suas pesquisas, o professor Rogério Singolani encontrou registros de ourinhenses fichados no DOPS, na época da ditadura militar.

Outro episódio relacionado a esse tema, a cassação do mandato do prefeito Lauro Migliari em 1969, se serviu de material inédito: “Para abordar esse assunto, foram fundamentais as entrevistas realizados em 2014 com o ex-prefeito e outras pessoas que viveram aquele momento”, afirma Rogério.




Uma das principais contribuições da Série 100 Anos Ourinhos foi apresentar fatos ignorados pela população, mas que tiveram grande repercussão, como a greve de trabalhadores da Fazenda Lageadinho em 1963. Poucas pessoas tinham conhecimento de um movimento grevista que foi incentivado por militantes comunistas da cidade e resultou em perseguições políticas e prisões. Embora pouco conhecido, existe farta documentação sobre o tema, o que permitiu que se recuperasse um episódio de grande relevância quando relacionado ao contexto político vivido pelo país naquele momento.

Ano 2011: local de lavagem de grãos de café da Fazenda Lageadinho.

Diferente da greve de 1963, outro episódio que foi tema da série deixou mais evidências na cidade: a Revolução de 1932. Evento histórico lembrado em nomes de ruas e monumentos, o movimento revolucionário comandado pelos paulistas alterou o cotidiano da cidade, tendo em vista sua localização geográfica estratégica, na divisa com o estado do Paraná.

No Clube Balneário Diacuí, que já se chamou Clube 9 de Julho, monumento que lembra os combatentes de 1932 está instalado exatamente no local onde foram as trincheiras. A frase na placa é de autoria do professor Norival Vieira da Silva. O obelisco foi inaugurado durante o governo do prefeito José Maria Paschoalick.

Além de documentos escritos, foi utilizado também um importante registro audiovisual produzido em 1996, com depoimentos de ex-combatentes ourinhenses. Dessa forma, a matéria deu voz aqueles que estiveram diretamente envolvidos num episódio que marcou profundamente a cidade e o país.

Parte das pesquisas envolveu entrevistas com antigos moradores, propiciando o contato da equipe com comoventes histórias pessoais. “Para produzir a matéria sobre o comércio, ficamos sabendo que na partida para o Brasil, a família Canda deixou um casal de filhos no Japão, na esperança de que logo voltariam, e nunca mais viram os filhos”, lembra Neusa Fleury.

A professora Neusa Fleury durante visita para produção de reportagem sobre as olarias de Ourinhos.

Escrever sobre personagens do passado contribuiu para resgatar a humanidade de nomes só conhecidos nas placas de rua:

Passo sempre pela rua Cardoso Ribeiro, mas não sabia de sua importância política, e de seus conflitos com o Coronel Tonico Lista, que foi um dos principais líderes político da região no início do século passado”.

Além das entrevistas, também foram consultados arquivos públicos e pessoais, como o blog Memórias Ourinhenses, de José Carlos Neves Lopes. “Temos que ressaltar a importância de iniciativas como a criação da Casinha da Memória e do próprio Museu Municipal, que permitiram a organização de farta documentação sobre a história da cidade”, ressalta Marco Aurélio. É preciso destacar também a contribuição de projetos de preservação da memória local, como o Arquivo de Lembranças e Ourinhos: Memória em Movimento, realizados pela Associação de Amigos da Biblioteca Pública – AABiP, além de livros e trabalhos publicados que abordam a história da cidade, e que também foram fontes de pesquisa.

Por fim, é preciso destacar a importante contribuição da Fundação Educacional Miguel Mofarrej, que patrocinou a Série 100 Anos Ourinhos. À frente das mais tradicionais instituições de ensino da cidade, a UNIFIO e o Colégio Santo Antônio Objetivo, a fundação cumpriu mais uma vez o seu papel social, reconhecendo e apoiando iniciativas que recuperam nosso passado e valorizam nossa memória.

Para produzir este texto, foram entrevistados Marco Aurélio Gomes, Rogério Augusto Singolani, Neusa Fleury Moraes e Bernardo Fellipe Seixas. Pesquisas realizadas na Série 100 anos Ourinhos do Jornal Biz.

Fotos: Bernardo Fellipe Seixas

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