De Piraju para Tóquio: Pepê Gonçalves estreia nas Olimpíadas na madrugada desta quarta-feira

Foto: redes sociais

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Candidato a medalha na canoagem slalon, o pirajuense treinava recolhendo lixo no rio Paranapanema

Pepê detém a melhor colocação na canoagem de um brasileiro na história das Olimpíadas: o 6º lugar na final do K1 dos jogos Rio-2016

Na madrugada desta quarta-feira (28), à 1h50, Pepê Gonçalves estreia na canoagem slalom das Olimpíadas de Tóquio. O brasileiro, que foi criado em Piraju, cidade do interior de São Paulo, tem uma conexão forte com o meio ambiente. Todo o dia após os treinos no rio Paranapanema, o atleta sai recolhendo todo o lixo que encontra.

Pepê no canal olímpico, em Tóquio | Foto: redes sociais

“Nossa válvula de escape é a natureza. Mas a gente tem que olhar para natureza com excelentes olhos. Eu moro numa cidade que é privilegiada, que tem um rio super limpo que corta a cidade, mas nesse rio super limpo eu vou treinar lá e, cara, todo dia eu saio com uma sacola cheia de lixo. Só de eu olhar pro lado pego um, pego outro… Não pego mais porque não cabe no caiaque”, contou em entrevista à jornalista Beatriz Cesarini, do UOL Esporte.

“Eu fico muito triste em imaginar que a gente, ali perto, tem um rio tão lindo, uma natureza tão pura, e a gente não cuida, sabe? Sendo que a gente está dependendo cada vez mais da natureza. Tem uma frase que um amigo meu falou uma vez: o lixo não é responsabilidade sua até o momento que você vê ele na natureza. Você enxergou ele na natureza, é responsabilidade sua”, acrescentou.

Pepê começou na canoagem graças a um projeto social, e também se sentiu incentivado após uma visita em Piraju da dupla formada por Sebastian Szubski e Sebastián Cuattrin, que representou o Brasil na canoagem de velocidade nas Olimpíadas de Atenas-2004.

Pepê | Foto: redes sociais

“Nessa época a seleção brasileira de canoagem de velocidade foi para Piraju treinar para os Jogos. Além disso, a prefeitura da época implantou um projeto social chamado ‘Navegar São Paulo‘, para combater o afogamento de crianças. Era uma ação com canoagem, vela e remo, em um âmbito muito mais social do que competitivo. Tinham palestras com bombeiros, médicos, psicólogos… Tinha lanchinho, uniforme”, lembrou.

“Para a criançada que via aqueles atletas olímpicos treinando nas águas, aqueles caras gigantescos passando pela cidade, era o ponto. Todo mundo queria fazer aqueles esportes, a canoagem, a vela e o remo. Eu, lógico, desde o começo queria fazer canoagem. Queria ser um daqueles caras, e entrei nesse projeto social. Por conta da minha estatura baixa, me colocaram na vela, depois consegui ir para canoagem velocidade, que é a de água parada. Aí conheci a canoagem slalom e me apaixonei por essa modalidade, que realmente é o contato direto com a natureza”, completou.

Já são 15 anos que Pepê dedica sua vida à canoagem. Ele tentou conciliar o esporte com a faculdade de fisioterapia, mas acabou ficando puxado. Hoje, em Tóquio, o atleta participa de sua segunda Olimpíada – a estreia foi na Rio-2016.

“Até arrepia pensar que sou um atleta olímpico. Tudo passa tão rápido. Sempre quando se aproximam os Jogos Olímpicos, tudo florece mais. A torcida, os jovens, as crianças acompanhando… Muitos torcem por mim. Me sinto muito honrado em ser um instrumento. Eu acho que o propósito da minha vida talvez seja esse, motivar os jovens, ainda mais hoje que está cada vez mais difícil, os sentimentos cada vez mas banais”, refletiu Pepê. “Tem pouca gente disposta a pagar o preço pelas coisas, alcançar objetivos. A vida através de uma telinha parece muito fácil, parece que a vida do outro é sempre mais fácil, bonitinha… Quero mostrar que as coisas são possíveis. É palpável. Eu saí do nada. Tinha um tênis que eu ia para escola, que veio do meu primo de São Paulo, e era um número menor que o meu. Tirava no meio da aula porque eu não aguentava de dor. Hoje, eu não tenho onde colocar tênis de um patrocinador de marca esportiva. Com amor, dedicação, foco, dá certo”, comentou.

Conteúdo original por Beatriz Cesarini disponível em UOL

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