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por Márcia de Chiara
Mesmo sem qualificação adequada, trabalhadores são forçados a mudar de ramo em busca de ocupação. Setores que perderam o brilho por causa da pandemia, como comércio e serviços, são trocados pela construção, comércio online e o agronegócio.
A troca foi detectada por empregadores na hora em que recebem os currículos dos candidatos. Diante da escassez de mão de obra qualificada, investir na formação tem sido uma das saídas para preencher as vagas.
“Aumentou a migração de trabalhadores de outras áreas para construção”, afirma Gilvan Delgado, dono da empreiteira Atacama. Com déficit de mão de obra, ele contratou Marcos Paulo Viana, de 33 anos, que desde os 16 trabalhava na microempresa de panificação do pai. Inclusive, carregava no currículo só cursos desse setor.
O negócio de pão de forma integral, vendido a pequenos comércios e diretamente a consumidores, não foi para a frente quando veio a pandemia. A microempresa fechou e Viana encontrou na construção civil uma nova oportunidade.
Um ano atrás, quando começou na empreiteira, não tinha conhecimento da área. No início, trabalhava como ajudante em diversas funções para aprender. Hoje, coordena os serviços operacionais, como encarregado do controle de qualidade.
“Entrei na empreiteira achando que iria sair rápido, que seria algo transitório, mas fui aprendendo, evoluindo e crescendo”, diz. Na construção, Viana ganha quase o dobro do que tirava na panificação e planeja fazer um curso técnico na área ou até uma faculdade de Engenharia.
Esse também é o plano de Jacqueline Torres, de 27 anos. Formada em Administração, desde maio ela trabalha na área de saída de mercadorias no centro de distribuição do Mercado Livre, em Cajamar (SP). Pretende cursar uma pós graduação em logística, tema que entrou para o seu radar faz três meses.
Durante oito anos, Jacqueline foi funcionária de uma loja de calçados da rua 25 de Março, tradicional polo do comércio atacadista. “Cuidava da parte administrativa e vendia.”
Apesar do bom salário, Jacqueline decidiu procurar outro emprego, porque se via estagnada. Em 2019, conseguiu uma vaga na área de tecnologia de outra companhia, mas com a pandemia foi demitida. Depois de quase um ano procurando uma ocupação, foi admitida em março de 2021 na área de marketing de uma empresa de alimentos. Mas logo apareceu a chance de trabalhar no Mercado Livre.
Hoje, ela coordena uma equipe de 75 pessoas, gerenciando desde a separação do pedido até a saída da mercadoria. Ganha o dobro do que recebia no último emprego e 20% a mais em relação ao salário do comércio tradicional. “Tive de aprender tudo desde o começo, foi muito rápido”, afirma. Há três meses na empresa, ela diz que parece que está há um ano, diante da carga de novos conhecimentos.
“Treinamos e formamos pessoas”, diz Patrícia Monteiro, diretora de People do Mercado Livre. Para serviços de logística, a diretora conta que tem admitido trabalhadores vindos de outros setores que não vão bem.
Mudança
Após quatro anos como motorista de ônibus em Piraju, interior de São Paulo, Antônio Márcio Sanches, de 41 anos, fez uma manobra radical: trocou o transporte coletivo pelo trator.
Com a pandemia, as viagens de ônibus diminuíram, e ele teve o contrato suspenso. Passou a receber o auxílio do governo, e a renda caiu. “Com a pandemia, ficou enrolado e sai por conta.”
Sanches conhecia o produtor rural e zootecnista Miguel Abdalla e aceitou o desafio de mudar de ramo. Pouco mais de um mês, começou a pilotar trator e colheitadeira. Decidiu ir para o agronegócio em busca de um ganho maior e conseguiu. “Tiro cerca de 50% a mais do que ganhava como motorista.”
Além da receita maior como autônomo, ele diz que o ambiente de trabalho no campo é mais sossegado. Cursando o ensino fundamental, Sanches quer fazer um curso técnico para pilotar máquina agrícola, assim como fez para dirigir ônibus.
Conteúdo original Estadão
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