Análise em água de Ourinhos detecta 27 agrotóxicos

Imagem: iStock

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por Bernardo Fellipe Seixas/Jornal Biz

Levantamento realizado pela Repórter Brasil foi feito a partir do cruzamento de dados do ano de 2022 do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, do Ministério da Saúde

Ourinhos é uma das 128 cidades do estado de São Paulo com recorde de agrotóxicos detectados em análise da água distribuida pelo sistema de abastecimento público. A informação foi publicada nesta segunda-feira (16) pelo Repórter Brasil, entidade fundada em 2001 por jornalistas, cientistas sociais e educadores com o objetivo de fomentar a reflexão e ação sobre a violação aos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores no Brasil.

Segundo o comunicado, uma mistura de 27 diferentes tipos de agrotóxicos foi detectada na água consumida por parte da população de 210 municípios brasileiros. Santa Cruz do Rio Pardo, Bauru e Botucatu também integram a indesejada lista.

Conforme a entidade, a maioria dos exames identificou uma concentração dentro do limite considerado seguro pelo Ministério da Saúde para cada tipo de substância isoladamente. Ou seja, “a simples presença de cada agrotóxico em uma amostra não necessariamente acarreta problemas para a saúde”.




No entanto, “a regulação brasileira não leva em conta os riscos da interação entre os diferentes tipos de pesticidas”. É justamente a mistura de substâncias o que preocupa os especialistas. Eles afirmam que o chamado “efeito coquetel” pode gerar consequências ainda desconhecidas ao organismo humano.

Trecho do rio Pardo próximo ao ponto de captação para tratamento (ETA), em Ourinhos.

O estudo do Repórter Brasil não detalha quais seriam as fontes de contaminação da água por cidade. Em Ourinhos, a proximidade das lavouras de cana e soja ao longo das margens do rio Pardo, que abastece a cidade de água, e a falta de fiscalização e preservação da mata ciliar, devem ser considerados. O sucateamento da Superintendência de Água e Esgoto (SAE) pela atual gestão, que desde 2017 demonstra público interesse na privatização da autarquia, também deve ser um fator avaliado.

Ministério da Saúde não regula “efeito coquetel”

Enquanto a União Europeia impõe um limite para a presença de diferentes substâncias na água, o risco da mistura é ignorado pela normativa do Ministério da Saúde. A pasta teve a chance de regular essa questão em 2021, quando a nova Portaria de Potabilidade da Água foi aprovada, mas tratou apenas dos limites individuais.

O principal argumento é a dificuldade em calcular os efeitos causados pelas diferentes combinações de substâncias químicas na água.




“O ideal seria não detectar, ou seja, não encontrar nada”, afirma Cassiana Montagner, pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “Mas quando há a detecção, ainda que em concentrações menores que o valor máximo permitido, os governos deveriam tomar ações para evitar que esses agrotóxicos apareçam por longos períodos de tempo”, complementa.

Ela destaca que o risco é maior quando o consumo é contínuo, ou seja, quando a presença das substâncias na água persiste ao longo dos meses e anos. Nesses casos, 15 dos pesticidas encontrados estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, disfunções hormonais e reprodutivas.




Segundo a pesquisadora, as estações de tratamento não conseguem retirar os agrotóxicos da água na concentração encontrada no Brasil. Assim, a melhor solução é evitar a contaminação.

A origem do problema é o uso excessivo e indevido dessas substâncias, que ocorre em maiores quantidades em regiões rurais, mas também no paisagismo nas cidades.

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“Tudo aquilo que vem sendo colocado no ecossistema, solos e plantações, permanece nos recursos naturais e continua presente em diferentes lugares”, alerta Rafael Rioja, coordenador de consumo sustentável do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), que faz alertas constantes sobre a presença de agrotóxicos nos alimentos.

Esta não é a primeira vez que dados públicos levantam alerta sobre a presença de diversos agrotóxicos na água. Em 2019, especial feito pela Repórter Brasil, Public Eye e Agência Pública revelou que 1 em cada 4 cidades brasileiras tinham detectado todos os pesticidas na rede de abastecimento – a quantidade de municípios era substancialmente maior porque o levantamento analisou dados de 4 anos, 2014 a 2017.

Apagão de dados

Os dados do Ministério da Saúde também mostram que 1.609 municípios brasileiros — 6 em cada 10 que fizeram testes (confira a tabela completa de cidades) — encontraram ao menos um agrotóxico em sua água. O número pode ser ainda maior, já que mais da metade (56%) dos municípios não enviaram dados ou publicaram informações consideradas inconsistentes pelo Ministério da Saúde.

Nessa compliação se encontram outras cidades localizadas até 100 quilômetros de distância de Ourinhos, como Assis, Marília, Espírito Santo do Turvo, Palmital, Ribeirão do Sul e Salto Grande , entre outras.




“A quantidade agrotóxicos que está sendo jogada no nosso ambiente é muito maior do que a nossa capacidade de absorção e da natureza de transformar essas moléculas, e isso está na água que a gente consome, na água da chuva, dos rios”, afirma Marcia Montanari, pesquisadora do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Entre os estados que forneceram pouca ou nenhuma informação, o, Mato Grosso se destaca. Ano após ano, ele se estabelece como o maior comprador de agrotóxicos do País. Em 2021, mais de 150 mil toneladas de pesticidas foram vendidas no estado, uma diferença de mais de 60 mil toneladas para o segundo colocado, São Paulo.

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