A política é a disputa por uma pizza marguerita

Imagem: freepik

O objetivo desse texto NÃO é analisar a situação administrativa de uma cidade ou de um país específico. Não pretendo atribuir valor a nenhuma bandeira partidária, candidato, regime e muito menos, oferecer soluções milagrosas para a economia. Deixarei isso a cargo dos sedentos. Meu intuito aqui é explorar as raízes da política.

Todo ser humano de algum jeito busca o poder. O fato de sabermos ou não do acontecimento é outra história e não muda a natureza dos eventos. Somos inseguros quanto a vida e a nós mesmos. O desejo de ter o controle nas mãos é intrínseco a espécie. Temos medo! Quando uso o conceito PODER, estou me referindo à necessidade de comandar alguém, se impor à outra pessoa, fazer com que ela viva ou se expresse no mundo conforme os critérios que achamos ser bons ou ruins para nós. Como se quiséssemos parir um universo à nossa própria imagem, ao nosso modo de pensar. A política é o exemplo mais claro de busca pelo poder ou à permanência dele. São sinônimos!

Existe um livro que fala basicamente sobre o argumento exposto acima. Chama: “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel (pensador florentino, 1469-1527). Para o espanto de muitos, ele NÃO era um filósofo como interpreta o senso comum. Foi um consultor político. Trabalhava no estado, atuava para o estado. Era um burocrata, um tipo de agregado público de alta patente que em uma determinada ocasião, acharam que estava conspirando contra os “donos da festa”, os poderosos da época. Chegaram a afastá-lo de suas ocupações para que vivesse em um reduto campestre: Ou some daqui ou morre!

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Então, o pequeno Nicolau a bom grado se foi. Durante a sua estadia nos campos verdejantes elaborou esse manual, essa obra. Ele nunca teve a intenção de fazer um tratado filosófico. Queria de algum modo voltar ao poder, desejava de novo gozar do instrumento controlador. Política é poder!

Quando alguém deseja se tornar político, quer dizer duas coisas: primeiro é que o fulano(a) ambiciona desesperadamente o poder. Em segundo lugar, tem um enorme complexo de inferioridade, pois PODER pressupõe superioridade. Implica isso! E por qual motivo alguém quer ser superior? Porque se sente desvalorizado, rebaixado, um zero à esquerda. Não é culpa da pessoa. Você tem que compensar suas “fraquezas” para sobreviver na selva. A sociedade é predatória em todos as dimensões. Ele (a) precisa ter poder (e tudo que isso acarreta) sobre o outro para sentir que tem valor. Necessita provar a si mesmo que tem alguma relevância. É o que somos, eu e você! Igual a uma criança que é controlada, subjugada pela mãe. A figura materna (por mais vital que seja) exerce o conceito da palavra PODER sobre o filho. Esse, por sua vez desconta no gato, na árvore, no boneco de plástico ou em qualquer alvo que deduza ser mais fraco na cadeia alimentar.

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Perceba, as coisas funcionam dessa maneira. O esposo aponta o dedo para a cônjuge, ela aponta para a mãe e a cadeia segue. Claro! Há famílias e famílias, relacionamentos e relacionamentos. Mas em suma, o que se altera são as posições e os personagens e não a vontade de poder. O político é uma criatura complexada, que necessita dominar para ter valor. Parece contraditória, mas, essas figuras ainda são básicas para um convívio minimamente pacífico. Somos animais desejosos, certo? Enquanto houver o sentimento de que nos falta algo, existirá a política e seus agentes. Exemplificarei melhor.

Na Grécia clássica surgiu a tal da pólis, que era a cidade- estado e junto com ela a preocupação de como governar da melhor forma esse amontoado de gente. Pronto! Aí nasce a palavra política. Um instrumento que ajuda na convivência em sociedade. Homens e mulheres desejam. Nós sempre estamos em busca de algo, essa caça é a investida de uma crendice pela satisfação.

Deixarei mais claro ainda: Pense em uma suculenta pizza de marguerita com azeitonas pretas e manjericão fresco (a que eu mais gosto). Inicialmente terá que compreender que é apenas um exemplo, poderíamos falar do desejo por um cargo de gerente, belas pernas, uma viajem etc. Então para fins didáticos ficaremos com a comida, beleza?

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Após toda essa abstração da imagem da pizza: O queijo derretido, o cheiro que nos dá água na boca, as bordas bem moreninhas e você com fome… Acrescente agora a informação de que ela é a última da noite e para complicar ainda mais a situação, tem outras duas pessoas com o estômago vazio desejando o mesmo produto.

Nossa! Que embaraço. Como iremos resolver o impasse? Já que os bens aqui são escassos e não tem para todo mundo. Nessa hora que o instrumento “política” é útil. Será crucial elaborar algum tipo de regra, acordo, convenções ou algo do gênero que resolva o problema das três pessoas famintas. Pode ser uma lei determinando a preferência pela ordem de chegada ou talvez, usar de critério o valor de quem paga mais. O fato é: Somos sete bilhões de animais pseudocivilizados que encontraram na política o regulador do caos social. Isso precisa ficar bem nítido!

Toda norma é criada a partir de interesses pessoais. Alguém dita as regras que supostamente sejam as melhores para nós. Somos “obrigados” a aceitá-las. É a mesma situação da turminha que administrava a pólis. Meia dúzia de famílias gerindo toda a base da pirâmide, todo o país. Nossa suposta democracia teve origem lá, nos caras da Grécia, enquanto o poder… Esse não tem nacionalidade. É da natureza humana.

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Não estou julgando se é certo ou errado, bom ou ruim, futilidades como essa, eu deixo para os moralistas. Apenas observe! No período de eleição escutamos grandes discursos. Belas histórias de altruísmo surgem. Todos se tornam filantrópicos do dia para noite e querem salvar o mundo. Realmente, no meio dessa ânsia por votos, pode existir uma causa legitima pela melhoria da saúde, da educação, do transporte, enfim, pelo coletivo. No entanto, atrás de qualquer pessoa que deseja assumir um cargo público, encontrará – a priori – a cobiça pelo poder. Isso NÃO significa que ele NÃO possa executar a sua função de maneira coerente e honesta. O fato de buscarmos a política como um fim para o poder, NÃO desvalida – teoricamente – o comprometimento com o trabalho em si. É claro! Na prática são raras as exceções, é um jogo de interesses e conveniências que poucos assumem. Um tipo de escada, onde, o primeiro degrau é composto por homens e mulheres, criaturas desejantes. O segundo lugar ficou para a busca do poder e a crença na satisfação quando alcançada. E no terceiro e último está a FALTA, que é o motivo de existir o primeiro degrau da escada, assim fechamos um círculo vicioso.

Você deve saber que toda roda tem um mancal que não se mexe, que sustenta o movimento circular. Esse eixo é a falta de amor próprio e a consequência é o desejo de ser reconhecido, de ter valor, de ser superior. Geralmente, nós só estamos satisfeitos com algo quando não podemos consegui-lo. Você pode não aceitar essa realidade, pois não é simples encarar os fatos. Desejamos a pizza, correto? E se por uma eventualidade qualquer, temos a consciência de que ela não está ao nosso alcance, afirmamos imediatamente que não queremos mais, que não precisamos dela, que já estamos satisfeitos. Mentira! Qualquer pseudocontentamento é pura falta de vitalidade em conseguir. Somos amantes por excelência.

| Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Jornal Biz. |

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