Quem de vocês já assistiu ao filme “Relatos Selvagens”? Incrível como o filme embora tenha sua pitada trágica e cômica ao mesmo tempo (de maneira proposital), o que o torna dessa maneira é justamente o fato de que em todos os episódios de interações sociais eles deixam que as emoções os dominem do início até o fim de maneira crescente.
E apesar de as cenas nos parecerem distantes da realidade, elas dizem tanto sobre o nosso funcionamento diário.
Quem já não se pegou tendo um dia terrível por ter deixado que o sentimento de raiva, brotado por uma situação ocorrida pela manhã, perdurasse até que se adormecesse?
Quem já não passou o dia ruminando por um comportamento alheio julgado como inadequado?
Nós de fato temos uma tendência a culpabilizar terceiros por nossas frustrações diárias. Colocamos a culpa no vizinho, no cara que furou a fila, no chefe difícil de lidar, no colega que nos foi de extrema rispidez, em quem quer que seja.
Procuramos incessantemente por pessoas a quem culpar por nossas falhas, por nossas lacunas, por nossos buracos profundos.
Nessa atitude viciante e perniciosa não percebemos que nos deixamos reféns dos outros constantemente. Damos a direção na mão de outros e lamentamos pelo que fazem de nós.
Deveríamos nos dar mais crédito. Por exemplo, podemos até descobrir que temos um chefe que de fato não é uma pessoa fácil de lidar. Mas se o interesse for assumir a direção de nossas vidas, precisamos ir pouco mais além. Não basta estarmos atentos apenas ao que o chefe faz, existe uma interação social – no caso, um chefe que se comporta e a maneira como lidamos com ele. Então precisamos, sobretudo, nos atentar para a nossa maneira de lidar com o chefe e com as demandas do mundo. Isso sim, nos faz assumir a direção.
Esse enfoque nos coloca numa condição mais trabalhosa sim. Assumir a direção depois de tanto tempo viajando apenas como passageiro altera todo o processo. Pode até ser mais trabalhoso, mais cansativo, pois exige novas habilidades. Mas como todo esforço em busca de desenvolvimento e novos aprendizados, as recompensas não faltam.
As sensações podem ser libertadoras e inclusive fará cair por terra a necessidade do uso de relatos selvagens.
Jaqueline Peres Rubio é Psicóloga e especialista em terapia comportamental.