O homem que ri

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Crônica de Luiz Carlos Seixas

Existe algo de irritante no riso de certos jovens numa determinada fase da adolescência. Porque não é um riso e tampouco é uma risada. É um espasmo contínuo, como o latido do cachorro do vizinho que late o tempo todo. E, assim como o latido, esse espasmo juvenil não quer dizer absolutamente nada. Mas, como eu disse, esse problema é temporal e, quase sempre, passa.

Em um quarto fechado, dois jovens parecem se divertir. Na falta do que dizer ou ouvir, eles apenas riem. Mas riem mecanicamente, como o cachorro do vizinho que late sem parar. E o pior é que nisso não reside nenhuma alegria. É apenas o recurso ou o exercício do riso abestalhado. Esses jovens não sabem tocar um instrumento, porque isso demanda estudo. Não leem, porque os livros têm muitas palavras. Não pensam, para não desmanchar o penteado. Riem, então. Talvez porque o governo ainda não taxe a risada.

Durante a pandemia de Covid, Dráuzio Varella constatou que tínhamos perdido a compaixão pela morte dos outros, ou pela dor da morte nos outros. É o “tô nem aí” do infeliz governador dos paulistas; ou do genocida que encanta pobres de direita e paxtores afoitos a uma grana preta imitando alguém morrendo por falta de ar. Não sei a que atribuir essa falta de empatia desses governantes que não estão nem aí ou que zombam da dor alheia. Mas não deve ser por outro motivo que, de uns tempos pra cá, o Coringa tem dado mais bilheteria do que o Batman. E a bilheteria do Coringa vai dar nas urnas no dia da eleição.

Essa juventude que ri trancada no quarto voltou do cinema querendo ser o Coringa. A identificação foi imediata. A máscara para uma geração embrutecida e emburrecida é o riso do Coringa. Até porque não é fácil copiar o virtuoso homem morcego.

A última esperança é que esse riso abestalhado seja um mal sazonal. Ou que a burrice e a estupidez que hoje estão na moda, passe. Na Alemanha, que nos deu Beethoven e Nietzsche, foi assim 100 anos atrás. E não foi por acaso que o sueco Ingmar Bergman, o gênio do Cinema, filmou “O ovo da serpente” em Berlin. Taí um filme para quem ainda procura encontrar uma explicação para esse Brasil de hoje.

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