PEC da reeleição pode viabilizar 10 anos de poder a Guilherme na Prefeitura de Ourinhos

Guilherme Gonçalves no ato de posse como prefeito, na Câmara Municipal. | Foto: Vinícius Gasparoto

por Bernardo Fellipe Seixas

Mandatos de prefeitos e vereadores eleitos e reeleitos em 2028 poderão ser ampliados para 6 anos, em transição para unificação das eleições em 2034.

Aprovada na surdina, e sem debate com a população, a PEC da Reeleição escancara uma jogada manjada da elite política nacional. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou, na noite de terça-feira (20), um texto que parece ousado no título, mas que, na prática, conserva privilégios para os de sempre.




O QUE MUDA COM A PEC DA REELEIÇÃO

  • Fim da reeleição para prefeitos (a partir de 2028), governadores e presidente (a partir de 2030)
  • Mandatos estendidos: 5 anos para todos os cargos a partir de 2034
  • Transição: mandatos de 6 anos para prefeitos e vereadores eleitos/reeleitos em 2028
  • Unificação eleitoral: pleitos municipais (prefeito e vereador) e gerais (presidente, governador, senador e deputados) ocorrerão simultaneamente a partir de 2034
    • Senadores: redução de mandato de 8 para 5 anos (a partir de 2034)
    • Legislativo: mantém reeleição ilimitada para vereadores, deputados e senadores

Na eleição passada, Lucas Pocay (PSD) já não podia tentar a reeleição após dois mandatos consecutivos (2017-2020 e 2021-2024). Tentou manter seu grupo no poder ao lançar o ex-secretário Caio Lima, mas foi derrotado por Guilherme Gonçalves (Podemos) por 4.366 votos – diferença inferior a 5% dos votos válidos. No Legislativo, a renovação foi modesta: dos 15 vereadores eleitos, 9 foram reconduzidos ao cargo, e apenas dois podem ser considerados “figurinhas novas”, Celinho Cabeleireiro (Podemos) e Wesley Carlos (Republicanos).

IMPACTO DIRETO EM OURINHOS

Se Guilherme for reeleito prefeito em 2028, poderá completar uma década no comando da Prefeitura:

  • Mandato atual: 2025-2028 (4 anos)

  • Supermandato: 2029-2034 (6 anos)

Porém, o cenário pode mudar radicalmente em 2026. Se Guilherme decidir concorrer a deputado estadual:
✓ Terá que renunciar à prefeitura em abril/2026 (6 meses antes das eleições)
✓ Alexandre Zóio (PL), seu vice, assumiria automaticamente
✓ Perderia a preferência para a eleição municipal em 2028

Nos bastidores, especula-se que Guilherme poderia usar essa estratégia para frear a eleição de Pocay à Assembleia Legislativa. No entanto, três fatores pesam contra:

  1. Seu início de mandato conturbado, que pode comprometer seu potencial eleitoral

  2. Seu perfil centralizador, que torna improvável a renúncia voluntária ao comando municipal

  3. A relutância em medir forças diretamente com Pocay em uma disputa pelo mesmo cargo




LEGISLATIVO: A REELEIÇÃO QUE RESISTE

Enquanto o Executivo enfrenta restrições, o Legislativo mantém todos os privilégios:
• Vereadores, deputados e senadores seguem com reeleição ilimitada
• Eleitos em 2028 terão mandatos estendidos para 6 anos
• CCJ do Senado protegeu interesses corporativos na reforma

A blindagem parlamentar revela o verdadeiro jogo: alteram-se as regras para o Executivo, mas preserva-se a zona de conforto de vereadores, deputados e senadores. A justificativa técnica – unificação de eleições e redução de custos – mascara a perpetuação do sistema que beneficia os detentores de mandato.

Apresentada como modernização, a reforma se limita a alterar prazos e calendários, sem mexer na engrenagem do poder. A mudança é cosmética, mas seus efeitos serão substantivos – especialmente nas pequenas cidades do interior, onde prazos estendidos podem cristalizar oligarquias locais.

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