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por Neusa Fleury e Bernardo Fellipe Seixas
A recente privatização dos serviços de água e esgoto em Ourinhos continua gerando controvérsias. A atividade, que foi comandada por 60 anos pela SAE (Superintendência de Água e Esgoto) agora é gerida por instituição privada, a Ourinhos Saneamento. Curioso que a jovem empresa (tem apenas 6 meses de vida) utilize o nome da cidade em seu CNPJ, dando a impressão que já sabia que seria a vencedora do leilão onde ganhou o direito de explorar o abastecimento de água e coleta de esgoto pelos próximos 30 anos. Talvez tenha poderes paranormais ou premonitórios, acontece.
A Ourinhos Saneamento precisa dizer a que veio, como cuidará dos nossos rios e de que forma pretende resolver o grave problema de distribuição de água na cidade. Em robusto documento enviado à Prefeitura de Ourinhos em 2020, o Ministério Público foi enfático ao dizer que o problema da falta de água na cidade não se deve à captação ou tratamento, mas sim na distribuição, quando a água tratada se perde no subterrâneo através de canos quebrados ou rachados. Enfim, desperdiçamos água e dinheiro.
Nem todo ourinhense sabe que vem do rio Pardo a água que ele bebe, utiliza para o banho, limpeza, atividades agrícolas ou industriais. A dúvida pode acontecer porque somos agraciados com três rios que atravessam nossas terras vermelhas: Rio Pardo, Turvo e Paranapanema. Da água que consumimos, 95% vem do Pardo, e apenas 5% de poços.
Apesar de historicamente ser do Pardo a água que abastece a cidade, a privatização dos serviços deu à Ourinhos Saneamento autorização para utilizar as águas do Pardo e Paranapanema. A origem obscura da empresa e a enorme responsabilidade que passou a ter aumentam a preocupação dos ourinhenses sobre a utilização do nosso mais caro recurso natural, a água. Já vivemos os efeitos da crise climática, e a escassez da água é conseqüência do desmatamento, queimadas, falta de chuvas e utilização irresponsável do precioso líquido.
O rio cuja água escorre das nossas torneiras passou por muitas transformações nos últimos anos. A construção de usinas hidrelétricas provocou grandes áreas de alagamento, alterando o ecossistema. Com isso, a vegetação natural acabou destruída, o rio ficou assoreado e muitas espécies de peixes simplesmente desapareceram. Na minha infância na vizinha Santa Cruz do Rio Pardo, pescadores batiam palmas na frente das casas pela manhã vendendo cascudo, um peixe que parece ter sumido das águas barrentas do rio Pardo.
É fácil constatar que durante seus 264,25 km de extensão, as águas do rio Pardo recebem esgoto e detritos de indústrias. Falta mata ciliar em suas margens, e sobra lavoura de cana despejando agrotóxicos.
“Tudo bem”, dirão os desavisados. “Ainda temos o Panema”. Iremos fazer o mesmo com as águas verdes do rio que divide os estados de São Paulo e Paraná?
Cidades vizinhas como Piraju, Ipaussu, Timburi, Salto Grande ou Chavantes fazem do Panema motivo de atração turística. Ourinhos parece ignorar essa vocação. Apesar disso, temos poetas jovens que cantam suas belezas em versos como “Eu venho de lá da terra do pé vermelho, que de janeiro a janeiro tem Panema pra abençoar…”, de Marlon Prado, Lu Principe e Murilo Toloto.
Voltando no tempo, outro poeta cantou o Panema. São do professor Luciano Correia da Silva os versos que também viraram música: “Paranapanema de panema nema, podes vir, amigo, tempo há sim senhor. Puxa uma cadeira, que prosa é preciso, vem cantar comigo, prosiversador”.
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