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por Neusa Fleury Moraes e Marco Aurélio Gomes, para o Jornal Biz
Sempre fomos muito curiosos. Talvez por isso a gente tenha feito tantas coisas diferentes, buscando novas possibilidades para reinventar nosso cotidiano. Há cerca de dois anos, nossa curiosidade foi nos guiando em direção a um mundo do qual nossos professores das primeiras séries já falavam, mas que não imaginávamos que pudesse envolver tantos aspectos da nossa vida: o mundo das abelhas. No caso, o mundo das abelhas sem ferrão.
Quando ouvimos alguém falar em abelhas logo nos lembramos de pessoas que foram vitimas dos temidos ferrões. Picadas de abelhas são dolorosas e para alguns pode ser fatal. Mas o que muita gente não sabe é que existem outras espécies de abelhas que são nativas do continente americano. Só no Brasil, existem cerca de 300 espécies. Elas são conhecidas como abelhas sem ferrão, abelhas nativas ou abelhas indígenas. Antes da chegada dos europeus, os povos indígenas que habitavam nosso território já conheciam e se beneficiavam dessas abelhas. Hoje muitas pessoas se dedicam à meliponicultura, como é conhecida a atividade de criação de abelhas sem ferrão. O termo é derivado de “melípona”, nome científico desse tipo de abelha.
Diferente da chamada abelha europeia, que foi introduzida no Brasil na segunda metade do século 19, a abelha sem ferrão armazena mel em potes construídos com cera e, apesar do nome, elas possuem sim ferrão, embora seja atrofiado e por isso não é utilizado como defesa. Por isso, é possível lidar com abelhas sem ferrão mesmo em áreas urbanas. Quem já viu um pito de cera cercado de insetos saindo de algum buraco no muro de casa, talvez não saiba, mas pode se tratar da abelha Jataí, uma das espécies mais comuns em nossa região. As jataís também fazem seus ninhos em troncos, tocos de árvores e até em fornos a lenha. Com a jataí aconteceu a nossa primeira experiência de criar abelhas sem ferrão.
Em busca de informações logo descobrimos muitos canais dedicados à divulgação da meliponicultura, além de grupos formados em redes sociais onde seus membros compartilham suas experiências. Foi num desses grupos que descobrimos Ailton dos Santos Carvalho, morador do Jardim Itamaraty e criador de abelhas sem ferrão. Ailton contou que com apenas doze anos já começou a se interessar pelas abelhas: “Eu era um predador! Não existiam as tais iscas pet, eu retirava de barrancos, não era um resgate”. Iscas Pet são produzidas com garrafas de refrigerantes, especialmente preparadas para capturar abelhas, mantendo intactos seus ninhos originais. “Agora com as iscas, eu só tenho nativas daqui. Além da Jataí, tenho Borá, Mandaguari preta, Iraí, Tubunas, Mirim Doriana”, contou Ailton. Ele explicou que não retira mel, própolis ou pólen de suas caixas, mas vende enxames já transferidos para caixas apropriadas ou doa para pessoas que querem criar abelhas em casa. Para quem quer começar na meliponicultura, Ailton diz que é preciso pesquisar: “Estude sobre as espécies que deseja criar, tem muita coisa boa, páginas com orientações e dicas de manejo”. Foi Ailton quem nos forneceu nossa primeira caixa de abelhas Jataí.
As abelhas são as principais polinizadoras de diversos tipos de plantas e a ameaça de extinção coloca outras espécies em risco. As mudanças climáticas, com longos períodos de seca e queimadas comprometem a vida das abelhas. Para Matheus Davini Varalta, um jovem de 22 anos, morador da Vila Boa Esperança, “criar abelhas é uma forma de proteger a biodiversidade, produzir em abundância através da polinização, garantindo um futuro mais sustentável”. Matheus começou a criar abelhas no ano passado depois de assistir vídeos na Internet: “Não participei de nenhum curso, mas li bastante sobre o assunto”. Ele tem razão quando fala da importância das abelhas na produção de alimentos. Como muitas espécies são polinizadas principalmente pelas abelhas, hoje alguns agricultores chegam a alugar caixas que são introduzidas no interior das plantações, visando aumentar a produção.
Alem de manter espécies como a Jataí, a Mandaçaia e a Mandaguari Preta, Matheus comercializa atrativos para captura e caixas de madeiras que ele mesmo produz. Ele também tem consciência das dificuldades: “É preciso ficar atento com o fumacê (utilizado no combate à dengue, o fumacê pode matar os enxames), com o uso de agrotóxicos e a escassez de árvores e plantas que são benéficas para as abelhas”. Matheus acredita que é necessária uma conscientização de todos: “Precisamos de mais projetos de educação ambiental, disciplinas escolares que desenvolvam mais esse tema e políticas que incentivem a criação e preservação das espécies.”
Depois daquela caixa de Jataí que o Ailton nos forneceu, nosso interesse cresceu ainda mais e hoje temos também caixas de Mandaçaia e Uruçu Amarela, também conhecida como Bugia. Outro dia, em uma caixa praticamente esquecida no jardim, notamos a presença de uma espécie conhecida como ‘abelha solitária’, chamada de abelha das orquídeas. Essa abelha tem uma cor verde metalizada e não vive em colônias. Pensamos que isso talvez explique as orquídeas floridas por tanto tempo em nosso jardim.
E por falar em jardim, é preciso lembrar que abelhas necessitam de pólen, néctar, além da resina de árvores com a qual produz o própolis. Elas utilizam o própolis para vedar e manter um controle térmico das caixas. Nosso jardim já possuía uma diversidade grande de plantas, mas hoje privilegiamos aquelas que possam ser úteis para as abelhas, como o manjericão, a lavanda e a mirra. Descobrimos que a mirra, além de atrair abelhas, floresce no inverno, quando há escassez de plantas com flores. Manter um meliponário ou mesmo uma simples caixa dá trabalho e requer alguns cuidados. É preciso pesquisar sobre o manejo e as características das espécies.
Hoje muitos criadores de abelhas sem ferrão estão se profissionalizando. Além do mel que possui mais qualidades que aquele das abelhas com ferrão, é possível explorar comercialmente os produtos que são derivados da meliponicultura, como sabonetes e cremes hidratantes. Recentemente, o estado de Santa Catarina sediou um encontro de meliponicultores com centenas de participantes. Não faltam opções para quem deseja começar ou se aperfeiçoar na criação de abelhas. Existem diversos canais no Youtube dedicados tema, cursos rápidos e gratuitos oferecidos pela Embrapa, e para quem deseja se aprofundar ainda mais, o Instituto Federal Catarinense promove um curso mais longo, voltado à profissionalização de meliponicultores.
Saiba mais:
https://www.youtube.com/@AbelhaseNativas
https://www.youtube.com/@AbelhandoMundoAfora
https://www.ifc-riodosul.edu.br/site/extensao/meliponicultura/
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