Atualmente as cidades estão cada vez mais parecidas umas com as outras. As fachadas das grandes redes de fast-food tomam conta da paisagem e certo comércio popular, idêntico em todos os lugares, padroniza aquilo que é oferecido à população. Esse panorama se reproduz em outras áreas, inclusive na educação. Grandes grupos empresariais dominam boa parte dos negócios bilionários que envolvem o setor e estão presentes em cidades do mundo todo.
Em Ourinhos, a história da criação dos primeiros cursos superiores foi diferente, nasceu da vontade e trabalho de pessoas que possuem ligação com a cidade. Nesse cenário a trajetória da Fundação Educacional Miguel Mofarrej (FEEM) – mantenedora das Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO) e do Colégio Santo Antônio Objetivo – se diferencia.
Tudo começou com o esforço de um grupo de pessoas que perceberam a necessidade de instalação de cursos superiores na cidade. No final dos anos 1960, a ideia começou a tomar corpo na Escola Técnica de Comércio, conhecida como “escola do Jorginho”, tendo à frente os professores Jorge Herkrath e Carlos Nicolosi. Desse movimento, surgiu o Centro de Ensino Comercial de Ourinhos, instituição que no dia 28 de junho de 1968 protocolou, junto ao Conselho Federal de Educação, um pedido para criação da Faculdade de Ciências Econômicas e Contábeis e de Administração de Empresas. O pedido tramitou e a proposta foi ganhando simpatizantes, até que no dia 13 de março de 1970 foi criada a Faculdade de Administração de Empresas, primeiro curso superior de Ourinhos. O primeiro vestibular aconteceu em maio do mesmo ano, e as aulas tiveram início no prédio do Colégio Santo Antônio, de propriedade da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Carlos Nicolosi foi o primeiro diretor.
A Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição foi uma ordem religiosa que atuou na educação em Ourinhos durante décadas, sendo responsável pela construção do prédio imponente na Rua Arlindo Luz, que abrigou o Conservatório Musical Santa Cecília e o primeiro curso superior da cidade, e que hoje é sede do Colégio Santo Antônio Objetivo.
Porém, antes disso, a congregação já mantinha o Educandário Santo Antônio, localizado na Rua São Paulo. Em anúncio publicado na edição de 4 de janeiro de 1947 do jornal A Voz do Povo, eram oferecidos cursos de Jardim de Infância, Corte e Costura, Desenho, Pintura, Canto e Música. No ano seguinte, em 6 de janeiro de 1948, houve a cerimônia do lançamento da pedra fundamental do novo prédio na Rua Arlindo Luz, com previsão de instalação dos cursos primário e ginasial. No mesmo dia também aconteceu o início das obras do Seminário Nossa Senhora de Guadalupe, na vila Perino.
Vinte e três anos depois que as irmãzinhas iniciaram os trabalhos de educação com crianças ourinhenses, as pessoas que haviam lutado para a criação do primeiro curso superior na cidade perceberam a necessidade de se criar uma entidade para auxiliar na manutenção desse projeto, pensando na possibilidade de crescimento com a aprovação de outros cursos. Surgiu então a Fundação Educacional Miguel Mofarrej, entidade sem fins lucrativos “destinada à expansão e ao aperfeiçoamento do ensino”. Os mantenedores eram, em sua maioria, empresários e agricultores que foram responsáveis pelas contribuições financeiras para viabilizar seu funcionamento. A Fundação Educacional Miguel Mofarrej foi criada em 29 de dezembro de 1970, e os primeiros presidentes foram Dr. Roald Corrêa e Haroldo Leite Assunção. O nome da entidade foi dado como homenagem à família Mofarrej, que fez doação financeira vultosa para sua criação.
Em 1972 começa a funcionar o segundo curso superior na cidade, a Faculdade de Ciências e Letras de Ourinhos. Em 1982 as duas faculdades foram reunidas, surgindo as Faculdades Integradas de Ourinhos. O primeiro diretor foi o professor Norival Vieira da Silva, e além dos cursos já existentes, outros foram anexados: Licenciatura Plena em Letras, Ciências Contábeis e Zootecnia.
Apesar de nesse período não existir avaliação do desempenho de alunos ou das escolas, como existe hoje com o ENEM e o ENAD, havia muitas críticas sobre o ensino praticado nos cursos superiores da cidade. Em 1989 assumem a presidência e vice-presidência da FEMM os empresários Nildo Ferrari e Roque Quagliato, e uma nova era tem início. “A FEMM não tinha dívidas, mas também não tinha caixa. Foi um período muito difícil, havia muitas reclamações”, lembra Roque Quagliato em entrevista à jornalista Rose Pimentel, publicada no livro editado para comemorar os 40 anos da entidade. “Havia poucos alunos, com baixa qualidade de ensino e estrutura física das instalações deteriorada”, recorda Nildo Ferrari, em texto publicado no livro.
Os novos dirigentes da FEMM enfrentaram os desafios e dificuldades de olho nos índices de avaliação, como o ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e outros. A cada avaliação, eram discutidas estratégias para melhorar os resultados. O Colégio Santo Antônio, que também havia sido incorporado à Fundação, adotou o Sistema Objetivo, e logo seus alunos começaram a despontar nos primeiros lugares nos vestibulares do país. O Conservatório Musical Santa Cecília também se destacou com a criação da Orquestra Mofarrej, incentivada por Nildo Ferrari, que era amante da música e cultura.
Porém, a ampliação e o crescimento das Faculdades Integradas de Ourinhos estavam condicionados à conquista de um local maior e mais adequado. A construção do campus foi um sonho que se realizou em 19 de novembro de 2002, com a aquisição de 30 alqueires e a construção de salas de aula, laboratório, teatro e biblioteca, equipados com avançados recursos tecnológicos.
“Com o novo Campus, elaboramos um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) para 10 anos, e concluímos a implantação de todos os cursos programados. Cumprimos todas as metas com sucesso, sempre em busca de atualização”, conta Roque Quagliato.
As Faculdades Integradas de Ourinhos, instaladas num moderno Campus Universitário, oferece 19 cursos superiores, todos avaliados com os melhores conceitos pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). São eles: Administração de Empresas, Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Artes, Ciências Biológicas (Bacharelado e Licenciatura), Ciências Contábeis, Direito, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Farmácia, Medicina Veterinária, Odontologia, Pedagogia, Psicologia e Sistemas de Informação. Uma das principais metas das FIO neste momento é a consolidação como Centro Universitário e a implantação da Faculdade de Medicina.
O que se apreende nessa trajetória de quase 50 anos da Fundação Educacional Miguel Mofarrej é que a união e o trabalho fazem a diferença. A dedicação de muitas pessoas que acreditaram no investimento em educação contribuiu para que a cidade pudesse contar com tantos cursos superiores. Hoje existem outras faculdades em Ourinhos, mas a experiência da criação dos primeiros cursos deve-se ao pioneirismo da FEMM.
O empresário Roque Quagliato, atual presidente da Fundação, acompanhou de perto essa transformação, inicialmente como mantenedor da FEMM desde a sua criação, e depois como vice-presidente e presidente: “A maior conquista foi ter construído um patrimônio. Quando assumimos, só existiam as carteiras. Construímos o campus e adquirimos o prédio do Colégio Santo Antônio. Tínhamos o desafio de mudar e hoje temos mestres e doutores, com credibilidade na comunidade regional. Trabalhamos com seriedade e compromisso com a educação de excelência. Esse investimento no ser humano tem um valor incalculável”.
Para produzir este texto a equipe do Jornal Biz pesquisou em:
Fundação Educacional Miguel Mofarrej – 40 anos, de Rose Pimentel Mader;
Edição 1129 do Jornal Debate de Santa Cruz do Rio Pardo;
Edições do Jornal “A voz do povo”, “Diário da Sorocabana” e “O progresso de Ourinhos”, disponíveis em http://www.tertuliana.com.br/docs
Blog Memórias ourinhenses (https://ourinhos.blogspot.com/);
http://portal.inep.gov.br/web/guest/indicadores-de-qualidade
Imagens: Arquivo da Fundação Educacional Miguel Mofarrej, redes sociais FIO, Colégio Santo Antonio Objetivo e Luiz Carlos Seixas.
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