
por Bernardo Fellipe Seixas
Político que condenava gastos exorbitantes investe milhões em shows sertanejos enquanto serviços públicos básicos definham
A publicação dos contratos dos shows da 56ª Feira Agropecuária e Industrial de Ourinhos (FAPI) no Diário Oficial da última sexta-feira (6) expôs uma contradição gritante na gestão do prefeito Guilherme Gonçalves (Podemos). O mesmo político que, quando vereador de oposição, criticava gastos exorbitantes e contratos sem licitação, agora autoriza o desembolso de R$ 3.549.000,00 (três milhões e quinhentos e quarenta e nove mil reais) em apresentações artísticas. E o valor pode aumentar.
O valor mais expressivo vai para Maiara e Maraísa: R$ 674 mil por uma única apresentação. Jota Quest receberá R$ 385 mil, Israel e Rodolfo R$ 400 mil, Fernando e Sorocaba R$ 380 mil e Luan Pereira R$350 mil.
Em fevereiro, Guilherme alertou em entrevista coletiva sobre a necessidade de cortar gastos para evitar um déficit milionário. “Se continuarmos todos os contratos do jeito que estão, vamos terminar o ano com um déficit de R$ 90 milhões e a cidade falida”, declarou.
Austeridade seletiva
O discurso de austeridade fiscal, no entanto, mostrou-se seletivo. Às vésperas do carnaval, o prefeito cancelou o show do Grupo Revelação – única atração prevista para a folia ourinhense – alegando que o dinheiro seria direcionado para a saúde, especificamente para cirurgias eletivas. Os procedimentos prometidos nunca foram realizados, e o valor que seria “economizado” jamais foi divulgado. Uma pesquisa rápida indica que uma apresentação dos pagodeiros custaria entre R$ 150 mil e R$ 300 mil – uma fração do que agora é destinado a uma única dupla sertaneja.

O cancelamento do Revelação, apresentado como medida de responsabilidade fiscal, revelou-se uma manobra de marketing barato para justificar gastos ainda maiores posteriormente.
Gastos além dos palcos
Os R$ 3,5 milhões em shows são apenas parte dos gastos com a FAPI. A locação de geradores custará R$ 247.300,00, e diversos outros contratos ainda não foram divulgados: banheiros químicos, iluminação, tendas, materiais elétricos e de construção. O valor do acordo com a Associação Comercial e Empresarial (ACE) também permanece em sigilo até o momento.
Enquanto isso, o Teatro Municipal Miguel Cury está interditado, mais de 5 mil pessoas aguardam cirurgias eletivas, e escolas e unidades de saúde necessitam reformas urgentes.
Contradições na prática
Contrariando o plano de austeridade, Guilherme manteve contratos milionários com reajustes e solicitou um empréstimo de R$ 140 milhões, aprovado pelos vereadores. A gestão que prometeu transparência reproduz os vícios que criticava quando era oposição.
A FAPI, tradicionalmente importante para a população, poderia ser realizada com atrações de qualidade a custos mais razoáveis, liberando recursos para investimentos estruturais urgentes. A opção por uma feira de gastos milionários evidencia uma gestão de “pão e circo”, que prioriza o espetáculo em detrimento das necessidades fundamentais da população.
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