
por Bernardo Fellipe Seixas
Conteúdo atualizado às 16h13 e 16h20.
Prefeito Guilherme Gonçalves nomeia mais um político de fora, e contraria promessa de valorizar ourinhenses
A administração de Guilherme Gonçalves (Podemos) acaba de protagonizar mais um episódio que expõe o abismo entre discurso e prática política. A nomeação de Sandro César Caprino, de 54 anos, para o cargo de secretário-adjunto de Educação de Ourinhos representa não apenas o desrespeito a uma promessa de campanha, mas também uma decisão questionável do ponto de vista ético e administrativo.
Cassação de mandato e acusação por improbidade
Caprino não é um nome qualquer no cenário político paulista. Trata-se de um político profissional sem histórico de ligação com a área educacional. O ex-vereador e ex-prefeito de Paulínia teve seu mandato cassado pela Justiça em 2017 por abuso do poder econômico, decisão posteriormente referendada pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo em 2018, e confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral em 2019.
Mas os problemas judiciais não param por aí. Em 2015, quando exercia a presidência da Câmara de Paulínia e assumiu temporariamente a prefeitura por apenas dois dias, Caprino protagonizou um episódio que resultou em ação civil pública do Ministério Público por ato de improbidade administrativa. O caso envolveu o desvio de impressionantes R$ 17.385.550,83 (dezessete milhões, trezentos e oitenta e cinco mil, quinhentos e cinquenta reais e oitenta e três centavos) de recursos públicos.
O juiz Carlos Eduardo Mendes foi categórico em seu despacho: não seria prudente a ordenação de despesas de forma imediata para quem estava apenas “cobrindo” dois dias de vacância no cargo. Segundo a decisão judicial, tal procedimento só seria aceitável em casos de despesas urgentes relacionadas a serviços essenciais como saúde, educação e saneamento básico – o que claramente não era o caso. O processo segue no judiciário.
Histórico de cargos comissionados
A trajetória de Caprino pelos gabinetes públicos é extensa, e revela o perfil típico do político profissional de cargos comissionados. Sua carreira política inclui:
- 1999: Assessor do deputado estadual Petterson Prado (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo)
- 2009: Assessor do deputado estadual Otoniel Lima (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo)
- 2009-2011: Assessor do deputado federal Roberto Alves (Câmara dos Deputados)
- 2012: Eleito vereador em Paulínia pelo PRB, atual Republicanos
- 2015: Presidente da Câmara de Paulínia, e prefeito por dois dias (4 a 6 de fevereiro)
- 2023: Assessor parlamentar do vereador Eder Mota, na Câmara Municipal de Ourinhos
- 2024: De janeiro a abril, Secretário-adjunto da Mulher e da Família da Prefeitura de Ourinhos, na gestão Lucas Pocay
- 2024: De abril a dezembro, Secretário-Adjunto de Gabinete da Prefeitura de Ourinhos, na gestão Lucas Pocay
- 7 de Janeiro de 2025: nomeado em cargo comissionado como Diretor Geral de Orçamento e Planejamento na Prefeitura de Jacarezinho/PR
- 30 de Abril de 2025: Exonerado da Prefeitura de Jacarezinho após apenas quatro meses
- 6 de maio: nomeado como secretário-adjunto de Educação da Prefeitura de Ourinhos
Caprino também mantém vínculos com parlamentares ligados à Igreja Universal e Assembléia de Deus, como Celso Russomano e Cezinha de Madureira, e se apresenta nas redes sociais como “Obreiro Sandro Caprino”.

Da técnica à política: mudanças na Educação
A entrada de Caprino reforça uma mudança de perfil na gestão da Educação municipal. Em fevereiro, Carmem Lúcia Pereira Machado — servidora efetiva há 30 anos, respeitada entre os profissionais da área — deixou o cargo de secretária após apenas dois meses. Em seu lugar, assumiu Rodrigo Mendes, professor e ex-candidato a vereador derrotado em 2024 pelo PDT, partido da coligação que apoiou Guilherme Gonçalves.
Agora, com Caprino como adjunto, a pasta passa a ser conduzida por dois nomes ligados politicamente ao prefeito, em substituição a uma servidora de carreira com longa trajetória técnica. O contraste é evidente — e simbólico.
Promessas de campanha esquecidas
Em sua atuação como vereador, entre 2021 e 2024, Guilherme Gonçalves criticava publicamente a prática de trazer nomes de fora para cargos estratégicos. Na última campanha eleitoral, prometia montar uma equipe formada por profissionais de Ourinhos, com reconhecimento local e experiência técnica.
No entanto, a composição de seu governo revelou outro cenário. Ex-políticos de diferentes cidades em posições centrais:
- Álvaro Costa, o “Kaká”: Ex-vereador de Ferraz de Vasconcelos, ocupou a Secretaria de Governo por quatro meses
- Diego Singolani: Ex-prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo, comanda a Saúde desde janeiro
- Kleber Rodrigo dos Santos Arruda: ex-secretário de Administração de Louveira, é adjunto da Administração e assina os documentos oficiais da pasta
- Alexandre Espíndola Cardoso Ledo: coronel aposentado da Polícia Militar, vindo de Marília, é secretário de Segurança Pública
- Sandro Caprino: Ex-político de Paulínia, agora na Educação

Entre o discurso e a prática
A nomeação de Sandro Caprino, com seu histórico jurídico e político e sem experiência na área educacional, evidencia um padrão: promessas eleitorais que não se sustentam frente às decisões administrativas. O governo Guilherme Gonçalves, que dizia priorizar quadros locais e técnicos, tem recorrido a alianças com ex-políticos de fora — e, cada vez mais, com perfis alinhados à direita religiosa e ideológica.
Como prefeito, Guilherme se distancia do discurso moderado que adotou durante a campanha e se posiciona de forma cada vez mais clara como representante da extrema direita. É entusiasta declarado do modelo de escolas cívico-militares, e tem permitido que influências religiosas — especialmente de denominações evangélicas — avancem sobre a estrutura educacional do município.
A Secretaria de Educação de Ourinhos, hoje, é comandada por uma dupla que simboliza o casamento entre o pragmatismo eleitoral e a cruzada ideológica. Rodrigo Mendes, embora professor, chegou ao cargo por sua fidelidade política — foi candidato a vereador pela coligação de Guilherme. Já Sandro Caprino, com passado controverso e vínculos religiosos explícitos, representa a guinada moralista e conservadora que avança sobre a rede municipal. Entre acordos de palanque e afinidades doutrinárias, a Educação em Ourinhos vai sendo redesenhada não por critérios técnicos, mas por conveniências partidárias e evangélicas.
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