Teatro Municipal Miguel Cury fecha as cortinas, e não foi para o último ato

Foto: Divulgação Prefeitura de Ourinhos

por Bernardo Fellipe Seixas

Interditado por problemas estruturais, o Teatro Municipal de Ourinhos escancara o preço do descaso. Em oito anos, o palco virou depósito de promessas não cumpridas.

O Teatro Municipal Miguel Cury — que já abrigou nomes como Fernanda Montenegro, Chico Anysio, Paulo Autran, grandes orquestras, grupos musicais e dançarinos que arrancaram aplausos entusiasmados em festivais memoráveis — agora jaz interditado. Não por decreto de silêncio poético, mas por goteiras, rachaduras e anos de descaso. A Prefeitura de Ourinhos confirmou nesta quinta-feira (24) o fechamento do espaço por tempo indeterminado, após laudo técnico apontar risco iminente à segurança dos frequentadores. O teto ameaça desabar. Literalmente.




Segundo laudo da engenheira responsável pela avaliação, a cobertura do prédio já não dá conta nem da própria existência. A impermeabilização é inexistente, e a água da chuva — sempre insistente — fez morada no forro de gesso. Parte dele pode desabar a qualquer momento. Resultado: Interdição imediata, agenda cultural suspensa, portas fechadas até segunda ordem. E quando dizemos “segunda ordem”, leia-se: até que a burocracia autorize uma reforma e o dinheiro apareça.

O secretário de Cultura, Jeferson Bento, apontou que a falta de manutenção ao longo dos anos comprometeu a estrutura. A frase soa quase como um epitáfio, afinal nos últimos oito anos, durante os dois mandatos do ex-prefeito Lucas Pocay (PSD), o teatro foi tratado mais como tralha de porão do que como templo da cultura. Palco sem espetáculo, camarim sem artista, poltrona sem plateia. Um abandono silencioso que foi se empilhando como entulho na história do prédio, inaugurado pelo prefeito Esperidião Cury, em dezembro de 1988.

Foto: Prefeitura de Ourinhos
Foto: Prefeitura de Ourinhos

Agora, diante das infiltrações que já não podem mais ser ignoradas, fala-se em “segurança”, em “intervenção ampla”, em “trâmites necessários para a reforma”. Tudo muito bonito no papel. Mas é bom lembrar: manutenção não é favor, é dever. Zelo não é luxo, é obrigação. E o cuidado com um patrimônio cultural se mede nos gestos do dia a dia — e não apenas quando o teto ameaça cair sobre nossas cabeças.

O Teatro Municipal Miguel Cury não chegou a esse ponto de uma hora para outra. Foi sendo corroído pela indiferença, pela falta de cuidado sistemática de gestões passadas. Agora, à nova equipe — que herda o problema —, cabe a missão de virar essa página, com trabalho firme e compromisso real com a cultura.

Fica a torcida para que, dessa vez, a cortina se feche apenas para a reforma — e que, quando reabrir, o palco volte a ser o que já foi: símbolo da efervescência cultural que fez de Ourinhos referência nacional nas décadas de 1990, 2000 e 2010. Porque a história da nossa cultura não merece ser lembrada apenas pelo abandono, mas retomada com o mesmo vigor de quem sabe o valor de cada aplauso.

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