Eles ficam um ao lado do outro, na Feira da Lua que acontece às quartas-feiras em frente à Igreja Nossa Senhora de Fátima em Santa Cruz do Rio Pardo. Um é advogado, o outro engenheiro de computação. Husan, o advogado, vende comidas sírias, e Michel, o engenheiro, estreou na noite de quarta-feira um carrinho novo onde prepara o crepe francês com recheios doces e salgados.
Os dois são refugiados sírios, e vieram de Alepo, cidade que foi violentamente bombardeada nos últimos anos. Dados da ONU divulgados no início de 2014 contabilizaram cerca de 31 mil pessoas mortas na guerra.
A disciplina ao trabalho chama a atenção de quem observa os dois na Feira da Lua. Chegaram ao Brasil em um grupo formado por oito pessoas, há dois anos “e dez dias”, conta Michel Ward, o engenheiro de 29 anos. Husan trouxe a esposa e dois filhos, mas Michel veio sozinho. Deixou na Síria os pais e um irmão, e ainda não fez amigos por aqui, porque trabalha muito para juntar “bagu”. Quer trazer a família para o Brasil também.
As dificuldades com a língua aos poucos vão sendo vencidas, e os dois definem os brasileiros como atenciosos e acolhedores. “Na Europa não é assim, como aqui, onde todos se cumprimentam. Se sabem que somos sírios, já viram as costas. Existe muito preconceito”, conta Husan, o advogado. Na Síria, ele trabalhava para a ONU, ajudando os refugiados que são muitos, por conta das guerras no Líbano e Iraque. Sua função era providenciar documentos para regularizar a vida daquelas pessoas.
No Brasil, ele é o refugiado, e passa por muitas dificuldades: “Não consigo ter conta em banco nem abrir uma empresa, por causa de documentos. Isso dificulta porque não conseguimos trabalhar com máquina de cartão de débito ou crédito, que hoje as pessoas usam muito para fazer pagamentos”.
O grupo de refugiados escolheu Santa Cruz do Rio Pardo por puro acaso. “Queríamos vir para o Brasil”, conta Husan rindo, fazendo círculos no ar com o dedo: “Abrimos o mapa e apontei ao acaso. Deu Santa Cruz”.
Apesar das saudades da família e dos costumes de seu país, a vida por aqui é rica em novas experiências: “Eu gosto de experimentar todas as comidas. Arroz, feijão, coxinha, …”, conta Michel, confessando que gosta muito de pastel. “Muito delícia”, diz, em seu português ainda hesitante. “Palmita também é muito bom…”.
Os primeiros meses foram de muito sofrimento e dificuldades com a língua e costumes. O advogado e o engenheiro não conseguem exercer suas profissões no Brasil, já que o processo de validação dos diplomas é complexo. Parece não restar alternativa para o grupo de sírios que vive em Santa Cruz do Rio Pardo. “Se eu voltar para a Síria serei convocado para a guerra”, diz Michel. “Não tenho saída”.
Para manter a esperança de se encontrar com a família e sobreviver num país em crise econômica, os dois trabalham de segunda a segunda. Michel é vendedor em uma loja no centro da cidade. Quando acaba o expediente, vai para casa e começa a preparar a comida que vende todas as noites, em lugares variados.
Se depender da força de vontade e da qualidade dos produtos oferecidos, vai dar tudo certo para eles. O crepe francês de Michel tem uma massa leve e o recheio é caprichado. Husan oferece quibe frito, assado e cru; esfihas com sabores variados, falafel, tabule e outras iguarias da comida síria.
Além da Feira da Lua que acontece às quartas-feiras, os dois também comercializam seus produtos aos sábados no Supermercado Alvorada em Santa Cruz do Rio Pardo.
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Matéria interessante que demonstra como é a acolhida de refugiados no Brasil, diferente de outras partes do mundo. Parabéns!
Learning a ton from these neat arilstec.
eu ja comprei as comidas do rudan, sao maravilhosas e ele e muito simpatico. proxima feira vou experimentar o crepe frances