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por Bernardo Fellipe Seixas / Jornal Biz
Extinção da SAE, após mais de 50 anos de serviços prestados, expõe desrespeito a servidores e desorganização da nova empresa, a Ourinhos Saneamento
A última segunda-feira (4) marcou um momento delicado e conturbado para os serviços públicos de água e esgoto em Ourinhos. A Ourinhos Saneamento assumiu, oficialmente, o controle desses serviços após a extinção da Superintendência de Água e Esgoto (SAE), que por mais de meio século foi responsável pelo abastecimento de água, coleta de esgoto e lixo na cidade. Nas redes sociais, ex-funcionários da SAE expressaram profunda emoção e descontentamento com o fim da autarquia, enquanto relatam desorganiação nas operações pela nova empresa.
O prefeito eleito Guilherme Gonçalves (Podemos), que é servidor municipal concursado, publicou em suas redes um vídeo com registros de quando trabalhava na SAE, vestindo, inclusive, o uniforme da autarquia. Ele escreveu: “Dia triste, nosso último dia na SAE… Povo vai perder muito com isso, nós funcionários perdemos. Cada gota de suor derramada, nesses mais de dez anos, foram por muito amor a Ourinhos…”. A publicação de Guilherme expõe um sentimento de luto pelo fim da SAE, e ecoa o temor de muitos servidores sobre o futuro dos serviços.
Desde o período de transição da SAE para a Ourinhos Saneamento, há mais de quatro meses, os servidores relacionam um caos na estrutura da empresa. “…os servidores estão todos largados no Pátio da SAE, não sabem o que fazer, uma desorganização total”, afirma Renato (nome fictício), servidor com 24 anos de SAE, que preferiu o anonimato por medo de represálias. “A desorganização é de assustar. Espero que melhorem com urgência a comunicação com o pessoal, pois isso pode acarretar em problemas nos serviços para o povo”, pontuou Renato.
Esse temor é compartilhado por Fabiano, que também preferiu não revelar seu nome real. Ele descreveu a transição como “turbulenta”, e criticou a maneira apressada com que o processo foi realizado. “A Lei de reestruturação foi feita às pressas, tudo nas coxas…Essa transferência dos servidores deveria acontecer somente com a nova administração, ano que vem, mas a gestão atual está fazendo tudo de qualquer jeito, e muito mal feito”, comentou.
A indignação também foi expressa por Michella Tanios, servidora há quase 26 anos, que publicou uma mensagem emocionada em grupos de funcionários na noite de domingo (3): “Foram 25 anos de amizades, parcerias e companheirismo… alguns amigos já se foram, para outros órgãos, outras cidades e até mesmo outro plano espiritual, mas as lembranças não sumirão com o tempo.”
ENTENDA O CASO
O processo de extinção da SAE e concessão dos serviços de água e esgoto a uma empresa privada foi gerido pelo atual prefeito Lucas Pocay (PSD). Em plena sexta-feira de carnaval deste ano, Pocay leiloou a SAE em São Paulo, e a empresa vencedora, o consórcio GS Inima, teve mais de sete meses para preparar uma transição. O extrato de concessão, publicado no Diário Oficial do Município em 12 de julho de 2024, tem valor de quase R$ 2,5 bilhões e vigência de 30 anos. O pagamento de outorga inicial ao município foi de R$ 277,5 milhões, dos quais metade (R$ 138,7 milhões) já foi repassado à Prefeitura. O restante, R$ 138,8 milhões, deveria ser quitado até novembro deste ano.
O início das operações da Ourinhos Saneamento foi definido estrategicamente para menos de um mês após a realização das eleições municipais, o que levanta muitos questionamentos sobre a falta de responsabilidade da gestão atual. Muitos servidores da SAE, agora transferidos para a Prefeitura, relatam estar em desvio de função ou completamente “esquecidos” nos quadros da administração pública. A desordem no processo de transição não afeta apenas os funcionários, mas também coloca em risco a qualidade dos serviços prestados à população.
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