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por Bernardo Fellipe Seixas
Quando sentimos a possibilidade de volta à vida normal com o controle da pandemia, uma nova tragédia toma conta dos noticiários. As imagens dos mísseis riscando o céu da Ucrânia, as casas e prédios destruídos e o número de vítimas e refugiados são sinais de que o pesadelo de um conflito mundial ainda persegue a humanidade. De uma forma ou de outra, todos somos atingidos e nos sentimos acuados e impotentes diante da incapacidade dos líderes mundiais em solucionar tensões e interesses muitas vezes ocultos. A guerra será sempre a alternativa mais nefasta, resultado da insensatez e do desprezo pela vida.
São muitas as reações, enquanto alguns reproduzem aquilo que assistem na tevê, outros defendem este ou aquele lado do conflito, e com o universo das redes sociais todos se transformam em analistas tentando explicar os motivos que levam governos a despejar bombas sobre as pessoas.
Mas existem também aqueles que decidem tomar atitudes mais concretas, arriscando suas próprias vidas na tentativa de amenizar o sofrimento alheio. É o caso da ourinhense Dea Ferrazoli Jachtman, que há 30 anos mora na Alemanha e trabalha numa empresa que realoca desempregados no mercado de trabalho. Ela e seu marido, o médico Wolfgang Jachtman, embarcaram na manhã de ontem (06), com destino a Ubla e Vysne Nemecke, cidades da Eslováquia que fazem fronteira com a Ucrânia, que está em guerra declarada com a Rússia há 11 dias. Casados desde 2015, os dois percorrerão 1600 quilômetros para levar medicamentos e donativos para os refugiados da guerra.
“Estamos levando remédios, alimentos, alimentos para bebês, artigos de higiene para adultos e bebês, cobertores, roupas e sapatos de inverno. Como meu marido é médico, podemos levar medicamentos, que são muito necessários nesse momento”, explica Dea. Atualmente morando em Bruggën, cidade alemã na fronteira com a Holanda, Dea e o doutor Wolfgang viajam com o carro lotado de donativos, e voltarão na terça-feira trazendo uma mãe ucraniana com seu filho. Eles também estão levando uma cadeirinha de bebê, caso surja a necessidade de trazer uma criança.
Além de recursos próprios, Wolfgang e Dea receberam doações de amigos e vizinhos. Eles não conhecem a Ucrânia e nunca passaram pelas estradas do trajeto até Ubla. “Não conhecer o caminho não é problema, não temos nenhum receio, pois temos contato com um militar americano em Ubla, e ele nos passou todos os endereços para levar os donativos. Este conflito é uma insensatez, os ucranianos querem viver em um país livre, democrático, sem controle russo”, diz Dea.
Ela já atuou como voluntária pela Cruz Vermelha alemã em missões na Itália e com refugiados sírios. Wolfgang esteve na Turquia em 1990, durante a Guerra do Golfo, e tem medidas de precaução para a viagem.
O casal está levando água, frutas, bolachas, galões de gasolina e um saco de dormir, para o caso de enfrentarem fortes nevascas ou ficarem presos no trânsito. A temperatura tanto na Alemanha quanto na região de fronteira na Ucrânia, onde ficarão, é próxima de zero e com neve. Wolfgang fez uma placa com a frase escrita em ucraniano: “Levamos você para a Alemanha”.
Wolfgang e Dea possuem vários filhos, e alguns são frutos de relacionamentos anteriores. A enteada Valentina, de 22 anos, é estudantes de Medicina na Universidade de Frankfurt e esteve, em janeiro, fazendo estágio na UTI infantil da Santa Casa de Ourinhos. Todos os filhos, cinco no total, estão engajados em ajudar refugiados.
Wolfgang esteve no Brasil pela primeira vez em 1984, fazendo estágio em um hospital de Fortaleza, Ceará. Mas eles só se conheceram em um campo de refugiados sírios em Hattingen (Alemanha), em 2015, onde Dea era gerente de operações. “Ele foi oferecer trabalho voluntário como médico”, lembra Dea.
Dea diz que as lembranças da segunda guerra estão muito presentes entre os alemães: “A mãe de meu marido tinha 8 anos na guerra e se lembra das bombas, de viver se escondendo nos bunkers, de ser separada da família”. Para ela a maioria do povo alemão apoia a Ucrânia contra Putin. “A União Soviética era comunista. A Rússia é uma ditadura capitalista com um governo de direita, e uma propaganda influenciada por Steve Bannon ao estilo neonazista, como Bolsonaro no Brasil”. Para quem não sabe, Steve Bannon foi articulador da propaganda de campanha de Donald Trump nos Estados Unidos e teria orientado a prática de difusão de fake news também na campanha de Bolsonaro à presidência.
Para Dea, o posicionamento de parte da esquerda brasileira sobre o conflito é equivocado: “Acho engraçado que a esquerda no Brasil defenda o Putin, que é de super direita. Eles fazem isto por desinformação, foram pegos pela máquina de propaganda do Putin. Querem ser contra a OTAN e EUA, mas tudo bem. Fazer o quê?”.
A ourinhense teme que o conflito possa piorar ainda mais: “Todos que moramos aqui, pensamos que devemos ajudar os ucranianos, pois eles estão lutando e morrendo pela Europa. Infelizmente, eles estão como escudo”. Para Dea, o sentimento de humanidade deve estar acima de ideologias: “Pessoas estão morrendo na porta da minha casa, e eu vou ajudar. Estão morrendo pelo futuro dos meus filhos, para que continuem livres”. Dea e Wolfgang acreditam que não importa se estão ajudando pessoas em Petrópolis, na África, na Síria ou na Ucrânia: “Não podemos perder o lado humano, sou humana em primeiro lugar”.
No momento da publicação desta reportagem, Dea e Wolfgang chegam à fronteira com a Eslováquia. Clique aqui para ver o vídeo.
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