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Bernardo Fellipe Seixas | Jornal Biz
Os compromissos diários e o trânsito difícil compõem uma dupla capaz de tirar o motorista do sério. Mas a irritação pode se transformar em sorriso em algumas esquinas do centro da cidade, onde artistas de rua mostram sua arte.
É o caso do cruzamento da rua Cardoso Ribeiro com a Expedicionários, em Ourinhos, onde o uruguaio Federico Curvelo, de 28 anos, se equilibra no alto de uma escada sem apoios e joga pinos coloridos para o ar. Quando escurece a técnica muda, e chega a hora da pirofagia (popularmente conhecida como engolir fogo).
É preciso muito treino, segurança e controle do tempo para apresentações tão efêmeras. “Tem semáforos que ficam com o sinal vermelho por 60 segundos, mas outros são mais rápidos”, esclarece Federico, ou Fred Mistura, como é conhecido por aqui.
Ele conta que começou a se interessar pela arte circense vindo do teatro:
“Fui me interessando mais pelas acrobacias e foram anos de treino. Não vim de família circense, sou a primeira geração a se interessar por essa arte. Minha filha de 2 anos já está treinando, a tradição vai continuar”, revela, orgulhoso.
Trabalhar no meio da rua parece perigoso e arriscado, mas Fred não pensa assim, e circula desenvolto por entre os carros recolhendo dinheiro depois da apresentação. “Eu gosto de abordar quem aplaude ou que já tem o dinheiro na mão, porque é sinal que prestou atenção”.
“A rua é um lugar pra qualquer um”, conta Fred, referindo-se à frase de uma música uruguaia. “Se você vai atravessar a rua e me vê na esquina, eu sou qualquer um. Mas se você prestar atenção vai ver que eu tenho algo de diferente. Não ofereço nada material, apenas uns momentos de magia e descontração. Se a pessoa não colabora, mas sorri e mostra que gostou, já fico feliz”.
A vida sem endereço fixo rende muitas aventuras. Federico conta que saiu do Uruguai em dezembro, e antes de chegar a Ourinhos passou por diversas cidades praianas de Santa Catarina e Paraná. “Em outras viagens que fizemos conheci a Argentina, trabalhando como músico. Meu instrumento é o hang, não é muito comum. Acho o Brasil lindo, e sua gente também. Quero conhecer mais do país, e depois ir para a Colômbia. Só então vamos voltar para o Uruguai”, relata, explicando que o que ganha nas ruas é suficiente para as despesas da família.
Sobre as dificuldades em viajar com criança pequena, Fred diz que já precisaram de atendimento médico, e foram bem atendidos no Posto de Saúde. “Tivemos problemas com picadas de insetos. No Uruguai não tem isso”
Quando a presença do malabarista e acrobata deixa de ser uma novidade na cidade, é hora de partir.
“Tem gente que critica por nos ver sempre no mesmo lugar. Mas as pessoas não fazem o mesmo caminho para o trabalho todos os dias?”
Com o olhar concentrado nos pinos que joga para o alto e equilibrando-se na escada, Fred consegue perceber um comportamento habitual entre os motoristas: “Eles param o carro e ficam olhando o celular, não percebem nada em volta. Acredito que a arte de rua pode romper a rotina e trazer as pessoas para o tempo presente”.
Dominar o tempo para que os 60 segundos do sinal vermelho sejam suficientes para o malabarismo não é tarefa fácil, e quem se apresenta ao vivo `as vezes erra. Aí Fred sai catando os pinos pelo asfalto quente, sem perder a pose e fazendo mesuras de agradecimento. “É preciso fechar bem a apresentação, agradecer a atenção dos motoristas. Afinal, sou um artista e não posso terminar a performance de qualquer jeito”.
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Eu vi ele, o que ele faz é muito bom!!! Foi a primeira vez que incentivei a minha filha a juntar as moedas no console do carro, para dar em agradecimento a arte dele!
Parabéns pela matéria!
Nem tudo está perdido. Enquanto a imprensa do mal tenta jogar a população contra os artistas de rua este site faz o caminho inverso e mostra a arte e a vida difícil que eles levam. Parabéns pela abordagem! Tomara que a população ourinhense saiba reconhecer o trabalho desse novo veículo de comunicação.