Antigamente a expressão “fazer a feira” indicava a ida até uma feira livre para comprar frutas, legumes e verduras. Esse tipo de feira ainda existe, mas em muitas é possível encontrar os produtos mais variados, de brinquedos infantis a roupas.
Em Ourinhos tem gente que não abre mão de frequentar as feiras que acontecem em vários pontos da cidade, mesmo que os produtos encontrados ali também estejam à venda em supermercados ou sacolões. Quem costuma frequentar justifica contando do frescor das verduras e legumes, da amizade com os feirantes e até do passeio e encontros com amigos. O clima de insegurança tem afastado as pessoas dos espaços públicos e as feiras acabam estimulando essa convivência.
E tem para todos os gostos: quem procura um lanche rápido ou comidas oferecidas por food truck prefere as Feiras da Lua, que costumam ir até perto das 22h e estão espalhadas pela cidade. As que acontecem aos sábados e domingos ao lado das Escolas Caló, na Vila Perino, e Maria do Carmo, no Jardim Matilde, têm perfil mais tradicional, e funcionam no período da manhã.
A atividade de feirante talvez seja uma das formas mais antigas de comércio. Entre os gregos, civilização que existiu muitos séculos antes de Cristo, ela já existia, e foi muito comum também durante a Idade Média.
Seu Gervásio Alves talvez não saiba disso, mas já faz 53 anos que ele está na labuta. Vai completar 81 anos daqui a poucos dias, mas ainda cuida da horta localizada na Vila Cristoni. É dali que saem as verduras de folha, repolho, jiló e quiabo expostos em sua banca na feira da Praça Kennedy. “Horta dá serviço o dia inteiro”, informa, experiente. Para seu Gervásio, tanto faz a feira contar com food trucks ou vender pastel. “De noite as pessoas vem aqui só pra comer, não compram verdura”.
Ele começou com uma carroça vendendo abacaxi, enquanto o pai vendia melado e rapadura. Moravam no sítio, e cuidavam da plantação. Depois começou a participar de feiras, e lembra-se de diversos endereços onde elas aconteceram: na praça da Vila Margarida, no pontilhão da rede, perto do Colégio Santo Antônio, na Vila Perino… “Já andamos por toda a cidade”, conta, rindo, mudando de semblante quando diz: “Mas ultimamente piorou muito pra nós…”
Os queijos feitos pela dona Sonia Maria são divinos. Ela é feirante há 12 anos, e prefere participar das feiras tradicionais. “O movimento caiu bastante… não dá mais pra viver de feira”, lamenta, dizendo que apesar disso, o trabalho ajuda a complementar a renda familiar. Além do queijo, dona Sonia também fabrica sabão caseiro, feitos de banha ou álcool. Ela garante que são muito melhores para limpar a roupa suja.
Vida de feirante nunca foi fácil. É preciso acordar muito cedo e conviver com as oscilações de preço das mercadorias. Mas é uma atividade que está sujeita também as mudanças climáticas; se chove ou faz muito frio, as vendas despencam, se esquenta demais as verduras murcham. Mas a amizade e camaradagem entre eles faz a diferença. Formam uma grande família e se ajudam mutuamente. Seu Gervásio confirma, e quando perguntamos se ele se arrepende de alguma coisa nessa vida de mais de meio século como feirante, ele foi enfático ao responder: “Eu não! Fui feliz, sempre feliz!”