Guarda Mirim X Prefeitura: Ingredientes para um angu de caroço

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Opinião de Bernardo Fellipe Seixas

O prefeito Lucas Pocay pretende substituir a forma como acontece a cobrança por vagas de estacionamento na cidade. Há vários anos o trabalho é feito por menores contratados pela Associação Mirim de Ourinhos, através da venda de talões. Pocay quer que a cobrança seja feita de forma digital, através de empresa contratada, como acontece em algumas cidades.

O problema é que a mudança acarretaria a demissão de mais de 100 adolescentes que hoje vendem os talões de zona azul na cidade, e a decisão do prefeito Pocay não foi precedida de conversas ou esclarecimentos com as famílias nem tampouco com a entidade que realiza esse trabalho, o que provocou protestos nas redes sociais. A Associação Mirim de Ourinhos tem 46 anos de existência e a simpatia da população ourinhense pelo trabalho que desenvolve.

Print screen da postagem feita na página de Lucas Pocay Facebook

O prefeito Lucas Pocay usou as redes sociais para divulgar nota e vídeo explicando que não haverá demissões nem rompimento com o convênio com a Associação Mirim. Ele criticou o trabalho que cabe aos adolescentes, questionando se de fato aprendem alguma coisa vendendo talões na rua, sofrendo com o sol e chuva. Afirmou também que os jovens serão encaminhados para cursos e outro tipo de ocupação que acredita ser mais adequado para seu desenvolvimento profissional.

Print screen do comentário do prefeito

Em um comentário postado (imagem acima) em sua página oficial, o prefeito afirma que os menores não são registrados pela Associação Mirim, nem possuem direitos trabalhistas.

Print screen do comunicado da AMOSIMA Associação Mirim emitiu nota esclarecendo (trecho na imagem acima) que os menores contratados para o trabalho na zona azul são registrados em carteira e possuem benefícios trabalhistas como 13º e férias, ao contrário do que afirmou o prefeito. Eles trabalham 4 horas durante 4 dias na semana, e durante um dia todo frequentam cursos que acontecem na sede da entidade. Também não ficam desabrigados quando chove, e recebem alimentação e assistência médica.

Estão prontos os ingredientes para o angu de caroço: Sem diálogo e sem explicações convincentes, sobram dúvidas e acusações.

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O prefeito justifica a medida alegando que existe orientação do Ministério Público que considera ilegal o emprego de menores na venda de talões de zona azul em algumas cidades, mas não é objetivo quanto à postura do MP em Ourinhos.

Outra questão: Em discussão no Facebook, o secretário de comunicação, Felipe Chamorro, argumenta que uma empresa será contratada para administrar o serviço digital da zona azul. Os recursos arrecadados serão enviados para a Prefeitura, que repassará para a Guarda Mirim sob a forma de “bolsa”. A pergunta que não quer calar: A Guarda Mirim é uma entidade sem fins lucrativos, utiliza os recursos que recebe da Prefeitura, mas não aufere lucros. Quanto vai custar para os ourinhenses o serviço dessa empresa que será contratada?

Imagem: Wikipédia

O prefeito mostra-se equivocado quando diz que os menores contratados pela AMO-SIM não estão aprendendo nada trabalhando na zona azul. Noções básicas estão implícitas no horário de chegada e saída do trabalho, onde o adolescente aprende sobre pontualidade. Fazer o troco para o motorista exige habilidades matemáticas, e prestar contas para as supervisoras ensina muito sobre honestidade e caráter. Tratar o outro com educação, apresentar-se limpo para o trabalho e perceber as regras de hierarquia e socialização são lições que esses adolescentes levam para toda a vida.

Essa maneira de anunciar mudanças sem ouvir antes os envolvidos no assunto já trouxe outros problemas para o prefeito. No início da gestão, Lucas Pocay anunciou que a Escola de Bailado não iria mais funcionar no Centro Cultural. Pais, alunos e professores não aceitaram os vagos argumentos e justificativas apresentadas pelo prefeito, que conseguiu arrumar uma encrenca sem necessidade.

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