
por Bernardo Fellipe Seixas
Vereadores aprovam empréstimo histórico sem saber juros, valor das parcelas, prazo para pagamento ou onde o dinheiro será utilizado
A Câmara Municipal de Ourinhos aprovou na noite de ontem (12) um empréstimo bancário que, efetivado, será o maior da história da cidade: R$140 milhões junto ao Banco do Brasil, proposto pelo prefeito Guilherme Gonçalves (Podemos). O projeto de lei nº 22/2025 foi votado em regime de urgência, sem passar pelas comissões permanentes de Justiça e Redação e Finanças e Orçamento do Legislativo. A justificativa oficial é genérica: o valor seria usado em “educação, saúde, infraestrutura, mobilidade e despesas de capital”.
Na prática, os vereadores aprovaram um cheque em branco. Sem saber quanto o município vai pagar de juros, sem previsão do valor das parcelas ou do prazo do contrato. Um endividamento milionário, aprovado no escuro — e em alta velocidade.
Modo “rolo compressor” ativado e falta de transparência
Quem abriu o debate foi o presidente da Câmara, Cícero Investigador (Republicanos), que expôs sua preocupação com a falta de informações básicas sobre o projeto. “Isso vai impactar o orçamento do município por muitos anos. Precisamos saber com clareza onde esse dinheiro vai ser investido, porque até agora não foi apresentado nenhum plano detalhado. A prefeitura também não informou o valor das parcelas, nem os juros desse empréstimo. Como vamos aprovar algo assim? Sem saber quanto vai custar e por quanto tempo a cidade vai ficar pagando?”
Cícero também lembrou que ele e Guilherme, quando vereadores, sentavam lado a lado e votavam contra os pedidos de empréstimo feitos pelo então prefeito Lucas Pocay (PSD). “Fui contra e continuo com a mesma opinião. Gostaria que ele (Guilherme) não precisasse de empréstimo para tocar sua administração.”
Vereador expõe contradição do atual prefeito
O vereador Kita (MDB) usou a tribuna para exibir um vídeo de Guilherme Gonçalves, ainda vereador, criticando duramente um pedido de empréstimo feito por Pocay em 2021. No vídeo, Guilherme condenava o regime de urgência, a falta de planejamento e irresponsabilidade da gestão. A ironia do momento escancarou o que muitos já percebiam: o prefeito renegou o próprio discurso.
Kita também criticou a ausência de parecer técnico e o atropelo do processo legislativo: “Eu vou protocolar junto ao Ministério Público para que seja avaliado a legalidade do procedimento legislativo adotado, a ausência de instrução técnica adequada e eventual prática atentatória ao interesse público e boa gestão fiscal.”
O tom sobe entre os vereadores
Incomodado, o vereador João Gonçalves (PP), irmão do prefeito, rebateu o colega e tentou desviar o foco, perguntando se Kita já havia criticado o ex-prefeito Lucas Pocay da mesma forma em outras ocasiões. Foi então que veio a tréplica certeira de Kita:
“Quando seu irmão bradava, dessa mesma cadeira que está sentado, que era contra empréstimo e urgência, o senhor acompanhava a sessão ou não?”
Voto de confiança… e falta de responsabilidade
Apesar dos alertas e da ausência de dados básicos, a maioria dos vereadores aprovou o pedido. Alguns, como Gil Carvalho, Wesley, Vadinho, Anísio, Eder Mota e Sargento Sérgio, justificaram o voto com o argumento de que estariam dando um “voto de confiança ao prefeito Guilherme”.
Mas confiança sem cálculo é irresponsabilidade.
O parecer da Comissão de Justiça foi assinado por Gil Carvalho em menos de dois minutos. Tempo que mal dá para esquentar o assento, quanto mais examinar os riscos de uma dívida milionária que vai pesar nos cofres públicos por décadas.

Resultado da votação:
Votaram a favor do empréstimo: Anísio (PSB), Borjão (PSD), Celinho (Podemos), Eder Mota (PSB), Alexandre Enfermeiro (PSD), Furna (MDB), Gil Carvalho (PL), João Gonçalves (PP), Raquel Spada (PSD), Santiago (Cidadania), Sargento Sérgio (MDB), Vadinho (Podemos) e Wesley (Republicanos).
Votou contra: Kita (MDB).
Cícero Investigador (Republicanos), por ser presidente da Câmara, só votaria em caso de empate.
Da crítica à contradição
Em 2021, o então vereador Guilherme Gonçalves votou contra um empréstimo de R$70 milhões pedido por Lucas Pocay, que, até a noite passada, era o maior já aprovado e efetivado pela Câmara. Criticou o valor, o rito de urgência e a falta de planejamento.
Eleito prefeito, Gonçalves prometeu que revisaria e cortaria contratos milionários, e que não recorreria a dívidas como solução fácil para os problemas da cidade.
Agora, não só defendeu o endividamento como enviou pessoalmente o projeto ao Legislativo — e ainda pediu urgência na tramitação.
Prometeu cortar gastos. Não cumpriu.
Prometeu responsabilidade. Entregou improviso.
Prometeu mudança. Virou continuidade com dígitos maiores.
- Quer ver os conteúdos do Jornal Biz em primeira mão? Clique aqui e entre para o nosso grupo no WhatsApp.
CURTA O JORNAL BIZ NO FACEBOOK
Instagram @JornalBiz