Roberta Stopa: ‘Fiz política, não fiz negócios’ – O impacto de um mandato combativo em Ourinhos

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por Bernardo Fellipe Seixas

Roberta Stopa, 44 anos, é nascida e criada em Ourinhos. Estudou em escolas públicas, formou-se assistente social na Universidade de Londrina (UEL), e fez especializações, mestrado e doutorado em Serviço Social. É servidora concursada do INSS de Ourinhos há 15 anos, e já lecionou em instituições de ensino superior na capital paulista.

Entrou para a política em 2020 elegendo-se vereadora com 1.058 votos, representando o Coletivo Enfrente. Na última eleição, foi a mulher mais votada de Ourinhos, com 1.321 votos, mas por questões partidárias, não conseguiu a reeleição.

Roberta Stopa se destacou como uma das mais enfáticas vozes contra a privatização da SAE. | Foto: Divulgação

Durante seu mandato, destacou-se pelo trabalho em fiscalizações, pela luta por transparência e pela crítica às terceirizações na gestão do prefeito Lucas Pocay. Criou 21 leis, e presidiu as Frentes Parlamentares de Enfrentamento ao Racismo e de Proteção à Arborização Urbana. Na Câmara, ela foi a mais ativa voz contra a venda da Superintendência de Água e Esgoto (SAE), liderando um movimento contra a privatização dos serviços de água e esgoto que coletou mais de seis mil assinaturas.

Na entrevista a seguir, ela fala sobre as realizações e dificuldades encontradas no mandato, faz críticas à política local e projeções para o futuro. Confira!

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Jornal Biz: Você foi eleita vereadora representando a primeira candidatura coletiva da história de Ourinhos, o Enfrente. Quais os prós e contras de um mandato coletivo?

Roberta Stopa: Foi uma experiência desafiadora. A complexidade de explicar o funcionamento do Mandato coletivo, com várias pessoas em torno de uma única cadeira, foi um grande desafio, tanto para a população quanto para os membros do Coletivo. No entanto, foi também um período de aprendizado. Começamos com cinco covereadores/as e terminamos com um Conselho Político composto por mais de 20 pessoas, que considero a nossa maior vitória.

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Jornal Biz: Há alguma ação ou decisão em seu mandato que você mudaria, caso tivesse uma segunda chance?

Roberta Stopa: Tenho muito orgulho de tudo o que fizemos, mas como tudo era novidade, acredito que houve algumas ações que não nos envolvemos tanto, deixamos passar, e outras nas quais focamos demais. No entanto, nada comprometeu esse Mandato tão combativo e transparente. Enfrentamos também muitas notícias falsas e críticas infundadas, frequentemente motivadas por machismo. Hoje, trabalharia com mais ênfase na comunicação para esclarecer melhor e debater com a população essas questões.

Jornal Biz: Como você analisa o relacionamento do prefeito Lucas Pocay com os vereadores?

Roberta Stopa: Péssimo. O prefeito não tratava o Legislativo como um Poder independente e com respeito. Muitos requerimentos não recebiam resposta ou vinham com respostas sem nexo. O próprio secretariado não atendia devidamente às nossas demandas de fiscalização, salvo exceções. Muitas vezes, tive que chamar a atenção na tribuna sobre o mau atendimento que recebia ao procurar um secretário para tratar de assuntos de interesse do município.

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Jornal Biz: Nos últimos quatro anos você conviveu, na Câmara, com o vereador Guilherme Gonçalves, futuro prefeito. Acredita que ele vai se relacionar melhor com o Legislativo? Por quê?

Roberta Stopa: Acredito e espero que sim, mas só o tempo dirá.

Jornal Biz: Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou para realizar seu trabalho no legislativo ourinhense?

Roberta Stopa: Enfrentei principalmente a misoginia e os boicotes. Quase todos os meus projetos recebiam parecer de inconstitucionalidade, geralmente sem uma argumentação plausível, o que dificultava ainda mais o meu trabalho. Propostas que previam transparência de dados ou que eram autorizativas (não geravam despesas para o Executivo e não criavam atribuições ou cargos) também recebiam parecer de inconstitucionalidade, mesmo contendo justificativas com projetos aprovados por outros vereadores que tratavam de assuntos semelhantes, e que recebiam parecer de constitucionalidade. Outra dificuldade era o debate nas sessões: minha fala era frequentemente cortada sem motivo, com a desculpa de que eu fugia do tema. Até mesmo um servidor da Câmara subiu à tribuna, com autorização do presidente da Casa, para me criticar de forma desrespeitosa. O desconhecimento sobre política pública e serviços públicos se evidenciava nos debates.

Jornal Biz: Você foi eleita pelo PT em 2020, se filiou ao Psol em 2024 e disputou a reeleição. Toninho do PT teve menos votos como candidato a prefeito do que você como vereadora. Como você viu o desempenho das frentes progressistas na última campanha eleitoral? É possível uma reconciliação?

Roberta Stopa: Continuo analisando e debatendo as possibilidades de projetos futuros. Embora não tenhamos conseguido manter a cadeira no legislativo, fizemos algo histórico: uma mulher foi eleita com um Coletivo em 2020 e aumentamos expressivamente a votação em 2024. Essas eleições deixaram claro que é difícil uma reconciliação (PT e Psol), até porque existem forças que estão correndo para lados opostos. O fogo amigo é o que mais fere. Penso que precisamos promover mais debates e ações de forma mais efetiva e coletiva com a população, para ampliar o trabalho político. Há muito desconhecimento sobre o processo político eleitoral, sobre as funções de cada Poder (Legislativo, Executivo e Judiciário) e, em específico, sobre a importância dos espaços de participação popular, que estão cada vez mais cooptados pela gestão municipal.

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Jornal Biz: Ao encerrar o mandato, qual legado você acredita que a Roberta Stopa e o Coletivo Enfrente deixam para Ourinhos?

Roberta Stopa: Nós mostramos que é possível fazer uma política honesta, transparente e sem fazer negócios, em meio a uma cultura de politicagem. Fui criticada várias vezes, nas sessões da Câmara, por fazer política. Sempre alguém dizia: “eu não estou aqui para fazer política”, direcionado a mim. Em uma das ocasiões, respondi: “Sim, eu faço política, não faço negócios”. Isso foi o marco do nosso Mandato Coletivo. Não fizemos indicação de cargos, não aceitamos acordos e defendemos os serviços públicos e os servidores municipais, realizando muitas fiscalizações e denúncias, sempre pensando no melhor para a população. Ou seja, trabalhamos pela coletividade. Outro legado foi mostrar a força da mulher na política e a importância da participação popular.

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